A empresa de media Trust in News (TIN) foi considerada insolvente pelo tribunal, no passado dia 4 de Dezembro, tendo sido fixado um prazo para a reclamação dos créditos e agendada assembleia de credores para final de Janeiro,  noticia o Eco.

“Declaro a insolvência da Trust in News”, lê-se na decisão do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste.

“Fixo em 30 dias o prazo para reclamação de créditos” e “designo, para realização da assembleia de apreciação do relatório a apresentar pelo/a administrador/a da insolvência, o próximo dia 29 de Janeiro de 2025, pelas 11:00“, lê-se ainda no texto da decisão.

A TIN, detida por Luís Delgado, entretanto afastado, é proprietária de 17 publicações, entre as quais a Visão, Exame, Jornal de Letras, Caras, Activa e TV Mais.

A administração do Grupo apresentou, em Maio deste ano, um Processo Especial de Revitalização (PER), no sentido de renegociar as suas dívidas, que ascendem a quase 33 milhões de euros, sendo o principal credor o Estado (17 milhões de euros).

O PER foi reprovado no dia 5 de Novembro, tendo a empresa anunciado que iria apresentar um plano de insolvência com reestruturação.

Uma vez que o tribunal não aceitou a proposta, a empresa foi, então, declarada insolvente, tendo sido nomeado como administrador de insolvência André Fernando de Sá Correia Pais.

Próximos passos

O administrador de insolvência assumirá agora a gestão da TIN, ficando a seu cargo a análise das melhores opções para proteger os interesses dos credores.

O administrador de insolvência decretou a “apreensão imediata, para entrega ao/à administrador/a da insolvência, dos elementos de contabilidade da insolvente e de todos os bens (ainda que arrestados, penhorados ou apreendidos)”, lê-se no documento.

Foi, ainda, nomeada pelo tribunal uma Comissão de Credores, tendo como membros o Instituto da Segurança Social, a Autoridade Tributária, a Impresa Publishing, o Novo Banco e Representante dos trabalhadores (a indicar).

Quanto ao futuro, “não é necessariamente o caminho da liquidação”, disse ao Eco André Fernando de Sá Correia Pais.

Além da venda dos activos, está em cima da mesa a hipótese de um plano de pagamentos de dívidas que permita ao Grupo continuar da sua actividade.

Entre a lista de credores, encontram-se a Segurança Social (a quem a empresa deve 8,9 milhões de euros), Finanças (8,1 milhões de euros), Impresa Publishing (4,2 milhões de euros), Novo Banco (3,5 milhões de euros), CTT (1,86 milhões de euros), BCP (717 mil euros), e muitos outros.

Trabalhadores protestam para salvar postos de trabalho

A decisão de avançar para a insolvência foi comunicada pelo tribunal no mesmo dia (4 de Dezembro) em que dezenas de trabalhares da TIN se concentraram no Largo Luís de Camões, em Lisboa, para manifestar a sua inquietação relativamente à crise no Grupo.

"Tem sido uma situação difícil, angustiante para nós e creio também para os nossos leitores", admitiu à RTP Clara Teixeira, jornalista da revista Visão há 20 anos.

"Desde há 12 meses, temos tido sempre os nossos salários pagos com atraso e não estão pagos na totalidade", acrescentou a também delegada sindical.

Já Rui da Rocha Ferreira, da Comissão de Trabalhadores da TIN e jornalista da revista Exame Informática, afirmou à Lusa, citado pela Renascença, que o objectivo é “preservar o maior número de postos de trabalho e de publicações possível”.

“Acima de tudo o que pretendemos neste momento é chamar a atenção pública, política e de eventuais investidores para aquilo que é a situação difícil dos trabalhadores”, disse o jornalista.

Jornalistas de outras publicações também se mostraram solidários com o protesto, juntando-se quer localmente, quer através das redes sociais.

A concentração contou, ainda, com a presença de representantes de alguns partidos políticos.

Partidos e Sindicato dos Jornalistas reagem à crise na TIN

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) anunciou que pediu e foi aceite uma “audiência urgente” com o presidente da República no dia 14 de Dezembro, sendo que já tinha também sido solicitada uma reunião com o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte.

O SJ entende que o Marcelo Rebelo de Sousa, "enquanto mais alto magistrado da nação” e “pessoa com grande proximidade e passado nos media, pode ter um papel muito importante para uma possível saída para esta crise, que afecta a vida de cerca de 150 pessoas", cita o Eco.

O Livre e o PS requereram audições parlamentares com o ex-presidente do conselho de administração da TIN, Luís Delgado, a Comissão de Trabalhadores do Grupo e o Sindicato dos Jornalistas sobre o processo de insolvência em curso.

O Livre quer compreender “quais as opções de gestão e quais os objectivos e rumo planeados para este Grupo de comunicação social ou os seus títulos”.

Também os socialistas pedem estas audições, com carácter de urgência, tendo em conta a "necessidade de um entendimento mais aprofundado da situação que o Grupo TIN atravessa".

(Créditos da fotografia: site da Visão)