Previsões do Reuters Institute reeditadas para o jornalismo em 2024
Num artigo publicado no Reuters Institute, Nic Newman abordou vários desafios e tendências no cenário dos meios de comunicação social. O jornalismo enfrentou muitos desafios em 2023, incluindo a natureza mutável das redes sociais, o declínio da liberdade de imprensa em muitos países e uma desconfiança crescente em relação aos meios de comunicação social em todo o mundo.
Desafios que o jornalismo enfrentou no último ano:
- Preocupações com a sustentabilidade dos meios de comunicação relacionadas com inflação e pressão nas despesas familiares.
- O impacto da invasão russa na Ucrânia, mudanças climáticas e sequelas da pandemia geram medo e incerteza.
- A natureza deprimente e implacável da agenda noticiosa continua a afastar muitas pessoas. Por isso, os editores terão de repensar a oferta de notícias, garantindo mais esperança, inspiração e utilidade para responder ao duplo desafio de cada vez mais pessoas evitarem as notícias e se desligarem da informação.
Pressão sobre as Plataformas Tecnológicas:
- Redes sociais como Facebook e Twitter enfrentam dificuldades para reter audiências, enquanto plataformas como TikTok ganham popularidade – as pessoas mais velhas aborrecem-se com estas redes e os utilizadores mais jovens migram para novas redes como o TikTok.
- Há alguma esperança de que o próximo conjunto de aplicações dê mais ênfase às ligações e aos conteúdos que são bons para a sociedade do que aos que provocam indignação e raiva. Com enormes audiências em jogo, podemos esperar (ou esperamos) ver as sementes de algo melhor em 2023, com a emergência de uma série de novas redes e modelos.
Inovações na Inteligência Artificial (IA):
- Avanços significativos na IA em 2022 oferecem oportunidades e desafios para o jornalismo. IA oferece aos editores a possibilidade de fornecerem informações e formatos mais pessoais, para ajudar a lidar com a fragmentação dos canais e a sobrecarga de informação.
- Estas novas tecnologias também vão trazer questões existenciais e éticas – com mais deep fakes e outros media sintéticos.
Os próximos anos não serão definidos pela rapidez com que os meios adoptam o digital, mas pela forma como transformam os seus conteúdos digitais para satisfazer as expectativas do público, que muda rapidamente.
Desafios Financeiros e Mudanças nas Receitas:
- Menos confiança dos editores nas perspectivas de negócio, com preocupações sobre aumento de custos e desaceleração de subscrições e interesse de anunciantes. Mesmo os que estão optimistas esperam ver despedimentos e outras medidas de redução de custos no próximo ano.
- Maior foco em subscrições e adesões como prioridade de receita, apesar das restrições nos gastos dos consumidores.
- Exploração de múltiplos fluxos de receitas, incluindo acordos com plataformas tecnológicas.
- Maioria dos editores (72%) está preocupada com o aumento da fuga às notícias – especialmente em torno de temas importantes, mas muitas vezes deprimentes, como a Ucrânia e as alterações climáticas. Os editores dizem que pretendem contrariar esta situação com conteúdos explicativos, formatos de perguntas e respostas e histórias inspiradoras.
Preocupações com Regulação e Restrições:
- Receio de que novas leis sobre conteúdos "nocivos" nas redes sociais possam dificultar a publicação de histórias não favoráveis aos governos.
Mudanças nas Preferências de Redes Sociais:
- Perante o declínio no interesse pelo Facebook e Twitter, os editores afirmam que vão aumentar esforços no TikTok, Instagram e YouTube – todas redes populares entre os jovens. O aumento do interesse no TikTok reflecte o desejo de interagir com os menores de 25 anos e de experimentar a narração vertical de histórias em vídeo, apesar das preocupações com a monetização, a segurança dos dados e as implicações mais vastas da propriedade chinesa.
- A incerteza em torno do futuro do Twitter sob a direcção de Elon Musk. Metade dos inquiridos afirma que a perda potencial ou o enfraquecimento do Twitter seria mau para o jornalismo.
- O LinkedIn surgiu como a alternativa mais popular, seguido do Mastodon e do Facebook. Outros têm dificuldade em encontrar um substituto idêntico.
Cobertura de Alterações Climáticas:
- Maior foco na cobertura das alterações climáticas, com a criação de equipas especializadas e integração em diversas áreas de notícias.
Investimentos em Inovação:
- Aumento de recursos em podcasts e áudio digital, newsletters – dois canais que se revelaram eficazes para aumentar a fidelidade às marcas de notícias – e formatos de vídeo digital.
- Crescente integração discreta da IA para proporcionar experiências mais personalizadas. Quase três em cada dez afirmam que esta é agora uma parte regular das suas actividades, com outros 39% a afirmarem que têm vindo a realizar experiências nesta área. Novas aplicações como ChatGPT e DALL-E 2 também ilustram oportunidades para a eficiência da produção e a criação de novos tipos de conteúdo semi-automatizado.
Tendências Futuras e Incertezas:
- Possível diminuição na impressão diária de jornais devido ao aumento dos custos de impressão e ao enfraquecimento das redes de distribuição, mudanças nas transmissões lineares de noticiários televisivos.
- Os noticiários televisivos e de radiodifusão estarão na linha da frente dos despedimentos de jornalistas, à medida que as audiências forem sendo afectadas pelo cansaço das notícias e pela concorrência dos streamers.
- No relatório do ano passado, previu-se uma explosão de criatividade na narração de histórias em vídeo de curta duração nas redes sociais para jovens. Este ano, veremos mais editores a adotar estas técnicas, enquanto os vídeos se tornam mais longos na procura de receitas sustentáveis.
- Os colectivos e as microempresas poderão ser uma nova tendência.
- Expectativas de correcção na economia dos criadores e possível evolução na propriedade e gestão do Twitter por Elon Musk.
- Crescente interesse em óculos inteligentes e auscultadores de realidade virtual, apesar das incertezas em torno do metaverso.