“Numa previsão para 2024 do Nieman Lab, Anika Anand, então vice-diretora da Local Independent Online News (LION) Publishers, descreveu o que ela via como uma necessidade de maior coordenação entre as organizações de apoio ao jornalismo - às vezes chamadas de intermediários - para melhor servir jornalistas e redacções”, começa por referir um novo texto publicado no site do Nieman Lab. 

Apontou que a falta de coordenação entre financiadores, associações e instituições académicas, empresas de consultoria, plataformas tecnológicas e outras organizações que servem os jornalistas e as redacções impede um “uso mais eficiente dos recursos existentes”. 

Num outro relatório, Anand centrou-se na forma como as organizações de apoio podem servir mais eficazmente o jornalismo local. Foram identificadas mais de 100 organizações deste tipo nos Estados Unidos da América, que surgiram entre 2009 e 2017 em resposta às mudanças no jornalismo local. O relatório aborda os desafios que surgiram com o crescimento das entidades apoiantes do jornalismo de proximidade: “Os críticos questionaram a decisão da filantropia de continuar a investir nestas entidades, apelaram a que as organizações de apoio respondessem melhor às necessidades das empresas noticiosas, rotularam-nas como guardiãs burocráticas e defenderam a criação de alianças mais estratégicas”. 

Anika Anand e Darryl Holliday, co-fundador do City Bureau e da Documenters Network, basearam-se numa estrutura de "desenvolvimento no terreno” (field-building framework) como estratégia para promover mudanças sociais e propõem um plano de acção plurianual para ajudar o sector de notícias locais a "amadurecer". No relatório lê-se que “o objectivo é ajudar as organizações de apoio a promover uma identidade partilhada para que, em colaboração com os financiadores e os responsáveis pelas notícias, possam executar a nossa principal recomendação: criar uma agenda ao nível do terreno (field-level agenda) para o campo de notícias local”. 

Definem essa agenda como um plano que reúne uma ampla e representativa coorte do sector para definir metas comuns que “deve ajudar o campo a organizar-se de forma mais eficaz a serviço das necessidades de informação das comunidades”. Se for feita correctamente, a construção de campo (field building) pode aumentar a velocidade, escala, força e eficácia dos esforços para revitalizar o jornalismo local. 

Anand acredita que, na última década, a abordagem mais comum entre os intervenientes no campo das notícias locais tem sido de assertividade. No entanto, a investigadora considera que é necessário um equilíbrio, com mais “construção de consenso”, mas mantendo espaço para diferenças na execução, estimulando a experimentação e o progresso. 

“Nós, como campo, precisamos de ser capazes de apresentar argumentos coerentes, persuasivos, rigorosos e empíricos sobre a razão pela qual as notícias e informações locais são fundamentais para a saúde e segurança das nossas comunidades”, referiu Darryl Holliday. 

Holliday e Anand defendem que uma agenda ao nível do terreno deve abordar pelo menos quatro objectivos: 

- Codificar as melhores prácticas e instrumentos para avaliar as necessidades de informação da comunidade; 

- Tornar as ofertas das organizações de apoio mais acessíveis e navegáveis, simplificando, consolidando e reforçando essas ofertas; 

- Envolver-se no desenvolvimento de políticas públicas para gerar financiamento público para os criadores de notícias e mudar a narrativa sobre o valor das notícias locais; 

- Aproveitar o conhecimento de fora do campo das notícias locais para atrair e desenvolver talentos e lideranças existentes que possam fortalecer as prácticas comerciais e reimaginar o papel das notícias e informações locais para as comunidades. 

Para além destes objectivos, os investigadores também oferecem uma “taxonomia” que diferencia seis categorias diferentes de organizações de apoio: 

  • Intermediários de financiamento (como o American Journalism Project) 
  • Associações e redes (como LION e INN) 
  • Serviços ao cliente (como URL Media e Hearken) 
  • Pesquisadores e analistas (como o Local News Impact Consortium; Nieman Lab e outros veículos de notícias) 
  • Defensores (como o Rebuild Local News) 
  • Educadores (como Trusting News e Listening Post Collective) 

Embora as organizações de apoio possam encaixar-se em mais do que uma categoria, “é fundamental que uma organização se identifique principalmente com um desses grupos, pois isso facilita a identificação de colegas de campo, possíveis lacunas e áreas de sobreposição”. 

Anand referiu que as definições para descrever o que as notícias locais fazem e como o fazem “mudaram muito, e nem toda a gente está de acordo com essas mudanças. E se o campo não está de acordo, torna-se muito difícil explicar às pessoas fora do campo porque é que precisamos do seu apoio para satisfazer as necessidades de informação das comunidades.” 

Também sugerem que os financiadores usem recursos para promover fusões e parcerias que possam fortalecer o sector. Anand observa que um dos maiores desafios para implementar as recomedações presentes no seu relatório é mudar a mentalidade para que se pense no jornalismo local como um campo colectivo: “Estamos a pedir aos financiadores, organizações de apoio e jornalistas que pensem para além das suas organizações. Uma coisa é dizer que se preocupa em salvar ou revitalizar as notícias locais e depois falar muito alto sobre como a sua organização está a fazer isso. Outra coisa é dizer que você quer garantir que todas as pessoas no nosso país tenham acesso a notícias e informações que atendam às suas necessidades e, em seguida, trabalhar com outras pessoas dentro e fora do campo das notícias locais para contextualizar o trabalho que você está a fazer e garantir que está a aproximar o campo desse objectivo”, conclui.

(Créditos da imagem: Freepik)