Razia na “Voz da América”, que perde mais de 500 funcionários

A Agência dos Estados Unidos para a Média Global (USAGM), que supervisiona a Voz da América (VOA) e outras redes de radiodifusão internacionais, anunciou a eliminação de mais de 500 postos de trabalho. Esta decisão ameaça intensificar disputas legais já em curso.
A decisão foi comunicada pela CEO interina, Kari Lake, apenas um dia depois de um juiz federal impedir que ela demitisse Michael Abramowitz, director da VOA. “Demitir Abramowitz seria claramente contrário à lei”, afirmou o juiz Royce Lamberth, que também advertiu o governo por não cumprir ordens judiciais anteriores.
Segundo o plano da USAGM, os empregos de 486 funcionários da VOA e 46 de outras áreas da agência serão eliminados. Restarão apenas 158 funcionários na agência e 108 na VOA, com centenas de trabalhadores em licença administrativa. “A agência continuará a cumprir a sua missão estatutária e provavelmente melhorará a sua capacidade de funcionamento”, escreveu Lake nas redes sociais.
Por outro lado, um grupo de funcionários que processou a agência critica a medida: “Consideramos repugnantes os ataques contínuos de Lake à nossa agência. Até agora, não vimos nenhuma evidência de que o plano foi feito com o rigoroso processo de revisão exigido pelo Congresso.”
As redes visadas incluem, além da VOA, a Radio Free Europe/Radio Liberty, a Radio Free Asia, a Middle East Broadcasting Networks e a Radio Martí, emissoras historicamente associadas à diplomacia pública dos EUA desde a Guerra Fria, com uma audiência global de 427 milhões de pessoas.
Para Michael Abramowitz, afastado da VOA em Agosto, os cortes representam um ataque à segurança nacional americana: “Se os Estados Unidos saírem do campo de jogo e cederem o lugar aos nossos adversários, então eles vão contar as narrativas que as pessoas em todo o mundo vão ouvir, e isso não pode ser bom para os Estados Unidos... Elas vão ouvir uma narrativa antiamericana. Precisamos de combater isso com a verdade”.
A Federação Americana de Funcionários Estaduais, do Condado e Municipais (AFSCME), o maior sindicato de funcionários públicos dos EUA, reagiu à remoção de protecções sindicais para funcionários da VOA: “Os membros da AFSCME que cumprem a missão mandatada pelo Congresso de transmitir a Voz da América em todo o mundo iluminam o farol da liberdade nos regimes mais opressivos. Agora, por terem lutado para manter viva a missão da Voz da América, a sua própria voz no trabalho foi-lhes retirada. A AFSCME irá contestar esta acção ilegal em tribunal.”
(Créditos da imagem: Annabelle Gordon - Reuters)