O jornalismo como motivação de interesse público

Num artigo publicado no “Observatório da Imprensa” - com o qual o CPI mantém um acordo de parceria -, Carlos Castilho aborda a iniciativa da organização não governamental City Bureau, sediada em Chicago, nos Estados Unidos, chamada Documenters. O programa visa treinar pessoas comuns para produzirem relatórios sobre acções de órgãos, empresas, sindicatos e instituições no âmbito local, procurando intensificar a cobertura de eventos de interesse público.
Castilho destaca a possibilidade de transformação do jornalismo, substituindo a motivação comercial pela do interesse público, conforme apontado pelo pesquisador Victor Pickard.
“O Documenters procura recompor a relação entre jornalistas profissionais e o público distorcida ao longo dos anos pelo processo de distanciamento entre as redacções e as audiências, o que acabou provocando índices record de perda de confiança no papel da imprensa e do jornalismo. O City Bureau parte da ideia de que as pessoas comuns serão as principais produtoras e seleccionadoras de notícias enquanto aos jornalistas caberá a complexa tarefa de verificar a sua veracidade, contextualizar e sugerir padrões editoriais”, escreve Castilho.
O foco é estimular a participação de moradores na discussão de problemas municipais.
O projecto foi lançado em 2018, em Chicago ,e expandiu-se a outras sete cidades norte-americanas através de parcerias com projectos jornalísticos locais. Os participantes, com diversas profissões, recebem treino e pagamento pelo trabalho executado.
Castilho destaca que a experiência do City Bureau está as ser observada internacionalmente e pode levar à institucionalização dos Community Information Centers (Centros Comunitários de Informação - CCI).
“Os primeiros CIC surgiram em 2020 nos Estados Unidos, sob o nome de Community Information Cooperatives, para enfrentar o caos informativo nas comunidades pobres durante a pandemia de covid-19 em estados na costa leste norte-americana. A ideia depois deu origem à criação dos Distritos Informativos, uma instância que passou a incluir também prefeituras”, escreve.
A análise aponta para uma mudança na institucionalização do jornalismo, indicando um sistema predominantemente público, com profissionais no papel de assessoria na comunidade e na produção de notícias locais, desvinculando-se dos interesses comerciais tradicionais. O artigo também menciona outras propostas, como financiamento de projectos jornalísticos locais e independentes por meio de impostos municipais geridos pelos distritos informativos eleitos pela comunidade.
Por fim, Castilho destaca que todas essas mudanças pressupõem uma transformação no comportamento do público, que passaria de espectador passivo a agente activo no processo de produção de notícias.