A cobertura rigorosa de temas relacionados com a inteligência artificial (IA) é essencial para evitar enviesamentos na percepção pública sobre o assunto.

A European Broadcasting Union (EBU) publicou um artigo com um conjunto de dicas sobre o que os jornalistas devem e não devem fazer quando reportam sobre estas tecnologias.

O que fazer

  • Aprofundar o conhecimento técnico

“Não é preciso entender como o machine learning funciona do ponto de vista da matemática, mas é útil entender, por exemplo, a distinção entre vários tipos de IA e de sistemas de IA”, diz o texto. É importante saber distinguir o que é IA e o que são modelos estatísticos mais simples, para evitar descrições erróneas. “Nem tudo o que se diz que é IA é efectivamente IA”.

  • Ouvir um conjunto diversificado de entendidos

Além de recolher contributos de empresas de IA, é essencial ouvir também outras fontes, como investigadores académicos, responsáveis de órgãos reguladores e outros profissionais da indústria. Consoante o tema abordado, pode valer a pena também entrevistar especialistas em desenvolvimento humano e aprendizagem, linguistas, etc.

  • Reportar sobre benefícios e riscos

Para equilibrar relatos apenas centrados nas vantagens da IA, podem ser feitas perguntas que confiram mais densidade ao tema, tais como: “Onde é que os sistemas são aplicados?”, “Quem beneficia destes sistemas?”, “Os sistemas são regulados?”

  • Reconhecer a dinâmica de constante actualização da IA

Uma vez que esta é uma tecnologia relativamente nova, é preciso manter alguma reserva quando se fazem afirmações sobre os efeitos que estes sistemas poderão vir a ter na sociedade. Deve, por isso, procurar-se um equilíbrio entre descrever o que está a acontecer no momento e reconhecer o desconhecimento que ainda existe sobre o assunto.

O que não fazer

  • Exagerar na descrição das potencialidades da IA

A criação de expectativas irrealistas sobre a IA é enganadora para a percepção pública e pode desvirtuar decisões tomadas tanto pelos cidadãos como por responsáveis de diferentes sectores, desde investidores e reguladores até às próprias empresas de média.

  • Humanizar a tecnologia

Devem evitar-se expressões como “a IA pensa” ou “a IA sente”, porque antropomorfiza sistemas tecnológicos e torna-se enganador. É preferível usar termos que remetam para a natureza algorítmica dos processos ou para a capacidade de processamento de dados. Também a imagética usada para ilustrar a IA deve ter estes cuidados em conta, sendo de evitar ilustrações de robôs com formas humanas, por exemplo.

  • Desvalorizar os elementos humanos e os factores de contexto

O desenvolvimento da IA está sempre integrado num contexto social e humano, desde a construção dos materiais até à gestão da água necessária para arrefecer os centros de dados. É importante contar também as histórias das pessoas por detrás de cada actividade na cadeia de produção.

  • Não tratar a IA só como uma inovação ou um assunto tecnológico

A IA atravessa um conjunto alargado de áreas da vida, incluindo negócios, leis, cuidados de saúde, educação, política, ambiente… É importante que a cobertura da IA inclua também a forma como a tecnologia está a mudar estes contextos, de forma que o público possa ficar com um entendimento mais alargado e aprofundado destes temas.

(Créditos da fotografia: Christina@wocintechchat.com no Unsplash)