A jornalista Maria Ressa, Prémio Nobel da Paz em 2021, criticou incisivamente as grandes plataformas tecnológicas por contribuírem para a disseminação de informação falsa e apelou para que colaborem na luta pela verdade, resume o Poynter Institute.

“Obrigada, Meta, TikTok, por financiarem a verificação de factos, mas, honestamente, é só uma forma de se distanciarem de, efectivamente, fazerem vocês esse trabalho”, apontou a jornalista filipina durante o seu discurso.

As declarações foram feitas no GlobalFact 11, um dos maiores encontros mundiais dedicados à crescente actividade de verificação de factos (“fact-checking”) no sector do jornalismo.

Além da Meta e do TikTok, o encontro também foi patrocinado pela Google e pelo YouTube.

Maria Ressa, uma das oradoras principais da conferência, referiu-se às grandes empresas tecnológicas como sendo responsáveis pelo incentivo à transmissão de informação falsa, uma vez que beneficiam desse tipo de actividade.

Reportando-se a um estudo do MIT, Ressa lembrou que, em 2018, as notícias falsas no X (na altura, Twitter) se espalhavam seis vezes mais rápido do que a verdade. As empresas “perceberam que conseguiam manter as pessoas a fazer scroll durante mais tempo se lhes dessem mentiras, e que, se lhes for incitado medo, raiva e ódio, [a informação] ainda se espalhava mais rápido”, afirmou.

“É essa a economia ultrajante em que vivemos hoje em dia”, assinalou.

Mas nem sempre foi assim. Quando fundou o jornal digital Rappler, em 2012, nas Filipinas, a jornalista via as redes sociais, como o Facebook e o então-chamado Twitter como “facilitadores da democracia”. Mas depois o modelo de negócio mudou.

Maria Ressa considera que o poder das grandes plataformas tecnológicas é tanto, que, no seu livro Como enfrentar um ditador: A luta pelo futuro, a jornalista se refere a Mark Zuckerberg, dono da Meta, como um “ditador”, tal como o ex-presidente das Filipinas Rodrigo Duterte. “Mas o maior ditador é Mark Zuckerberg, e em parte isso deve-se ao facto de não ser eleito”.

Por isso, Maria Ressa apela às grandes plataformas tecnológicas: “Eu espero que olhem para o mundo hoje e vejam [o que pode ser] o envolvimento construtivo. Vocês são os únicos com o poder e o dinheiro para fazer literalmente alguma coisa já para proteger a democracia”.

“Sem factos, não conseguimos ter verdade. Sem verdade, não conseguimos ter confiança. E, sem estes três, não conseguimos ter uma realidade partilhada. Não conseguimos começar a resolver problema nenhum”, afirmou a Prémio Nobel.

A intervenção completa de Maria Ressa, na sua conversa com o director de Global News da AFP, Phil Chetwynd, está disponível no site do Poynter.

O GlobalFact 11, que se realizou entre 26 e 28 de Junho de 2024, em Sarajevo, foi organizado pela International Fact-Checking Network, do Poynter Institute, em parceria com a Zašto ne, uma associação cívica da Bósnia e Herzegovina.

Participaram mais de 500 pessoas, entre verificadores de factos, investigadores na área da desinformação, académicos e representantes das plataformas tecnológicas.

(Créditos da fotografia: Maria Ressa no IJF 2024, Jaydixit, via Wikimedia Commons)