Em julho, a Meta lançou o “Threads” – uma rede social cujo lançamento parecia motivado pelas dificuldades do X, a plataforma anteriormente conhecida como Twitter – dando aos utilizadores do Instagram a possibilidade de criarem uma conta. 

Num artigo publicado no “Columbia Journalism Review”, Mathew Ingram aborda o lançamento desta aplicação da Meta, que alcançou trinta milhões de inscrições em vinte e quatro horas e que, agora, possui quase cem milhões de utilizadores mensais, consolidando-se como um concorrente significativo para o “X”. 

Desde que Elon Musk assumiu o controlo do "X", verificou-se uma queda nas métricas de utilizadores da plataforma.

Ingram destaca que o conflito entre Israel e Hamas desempenhou um papel crucial no sucesso do Threads. Tradicionalmente, o "X" era procurado durante crises globais devido à sua combinação de testemunhos na primeira pessoa, jornalistas verificados que partilhavam informação e vários comentários. 

“Durante mais de uma década, observou Newton, as pessoas afluíam ao 'X' sempre que ocorria uma crise global, atraídas pela sua mistura de testemunhos na primeira pessoa, jornalistas verificados que partilhavam informações factuais e uma vasta gama de comentários sobre o que quer que estivesse a acontecer”, escreveu.

Contudo, desde a aquisição da plataforma por Elon Musk, o “X” tem sido alvo de várias alterações, o que poderá ser um dos motivos que levou vários utilizadores a migrarem para o “Threads” à procura de uma alternativa com informação mais fiável.

O autor justifica que a abordagem de “Musk à verificação torna impossível dizer o que é fiável e o que não é, uma vez que o visto azul que costumava indicar uma conta verificada pode agora ser comprado por qualquer utilizador”. 

Embora o “Threads” não tenha inicialmente dado prioridade às notícias, a sua utilização por parte dos jornalistas tem crescido ao longo do tempo. 

“No mês passado, a conta Threads do ‘Reliable Sources’, o boletim informativo da CNN, publicou um “post” a pedir aos jornalistas que se identificassem nas respostas e mais de duas mil contas fizeram-no, incluindo as dos funcionários da Bloomberg, NPR, Boston Globe, Detroit Free Press, entre outros. Andrew Kaczynski, um repórter da CNN, observou num 'post' que ‘parece que o Threads está a melhorar todos os dias’", refere no artigo.

Embora não tivesse algumas das mesmas características do “X” quando foi lançado, o “Threads” adicionou, entretanto, algumas funções semelhantes, incluindo uma versão para “browser”, a função de pesquisa e uma funcionalidade que permite aos utilizadores editar as mensagens. 

Adam Mosseri, o executivo do Meta responsável pelo "Threads", disse recentemente que espera que esta e outras funcionalidades sejam acrescentadas nos próximos meses.

Mosseri disse que o "Threads" podia apelar a comunidades mais do que suficientes – desporto, música, moda, entretenimento, etc. – sem ter de fazer tudo em torno das notícias. Mais tarde, esclareceu que o Threads não iria reduzir a classificação das notícias no seu algoritmo, mas acrescentou que a aplicação também não as iria promover activamente, como o Facebook fez em tempos - uma afirmação que que irritou vários jornalistas no Threads, e foi provavelmente contraproducente.

Yair Rosenberg, do The Atlantic, disse, ironicamente, que, se o "Threads" quisesse prestar um serviço aos jornalistas, deveria permitir que os “posts” na aplicação fossem incorporados em histórias de sites de terceiros, permitindo assim que os repórteres "se sentassem no sofá e escrevessem artigos inteiros sobre um punhado de ‘posts’ como se representassem algo significativo". 

Em todo o caso, apesar do desinteresse declarado de Mosseri pelas notícias descobri, tal como Kaczynski da CNN, que, com o tempo, o Threads se tornou uma fonte de notícias útil, e certamente mais útil do que o ambiente noticioso cada vez mais questionável do X.

Isto não quer dizer que o “Threads” não tenha os seus problemas. 

E cita Jason Koebler, do “404 Media”, que escreveu que era "estranho ver" alguns jornalistas que conheciam a história do Facebook adoptarem o “Threads” só porque Zuckerberg é "um pouco menos horrível" do que Musk. Contudo, Koebler disse que continuaria a usar o “Threads” porque é uma "pessoa pragmática que quer se conectar com os leitores onde quer que eles estejam", e também porque o seu sustento depende disso.

No artigo, refere ainda Taylor Lorenz, do “Washington Post”, levantou outro problema potencial: actualmente, a aplicação bloqueia publicações e pesquisas de termos como "covid-19", "long covid, “vacinas”, entre outros – o que, segundo defende, limita acesso a informações cruciais e que impede que jornalistas e especialistas responsabilizem o governo e os líderes políticos. 

Segundo o "Threads", a função de pesquisa não fornece resultados para consultas que possam ter resultados de "conteúdo potencialmente sensível", asm Mosseri afirmou que este bloqueio seria temporário e que a empresa espera revertê-lo.

Ingram refere ainda que Allsop lhe perguntou o que é que o “Threads” – juntamente com o declínio do X e a possível fragmentação das audiências em várias aplicações – poderia significar para o jornalismo. 

“Respondi que, provavelmente, tornaria o trabalho dos jornalistas ainda mais difícil do que tem sido no passado, obrigando-nos a utilizar várias plataformas diferentes para chegar a todos os que costumavam estar no Twitter ou arriscando-nos a não conseguir estabelecer contacto com uma parte do nosso público e das nossas fontes, com a consequente diminuição do envolvimento e do número de leitores do nosso trabalho. Esta dinâmica poderia, por sua vez, intensificar os desafios económicos que muitos jornalistas e organizações noticiosas já enfrentam”.

O artigo conclui que os utilizadores de grandes redes sociais devem estar cientes de que estão, essencialmente, nas mãos de "reis da internet" e que esses espaços não são verdadeiramente de propriedade dos utilizadores. E questiona ainda se os jornalistas estão dispostos a ignorar o histórico da Meta em relação a desinformação, invasões de privacidade e outros eventos desagradáveis em troca de uma plataforma mais amigável.