A relação do público com a informação está a mudar, e parte da alteração do comportamento tem que ver com o consumo de notícias através de plataformas digitais. Ao mesmo tempo, “as redes sociais afastam-se da distribuição de notícias” e o público evita cada vez mais os conteúdos informativos.

No âmbito da conferência “The Post-Platform Era of News” (“A Era Pós-Plataforma das Notícias”, numa tradução livre), organizada pelo Institute for Nonprofit News (INN), em meados de Agosto, um grupo de profissionais — jornalistas, editores e financiadores — discutiu as estratégias usadas em diferentes redacções para criar e manter um espírito de comunidade em torno das publicações.

O Nieman Lab republicou um artigo com algumas das observações mais relevantes dessa discussão — o texto tinha sido publicado originalmente no canal de Medium do INN.

As notícias como meio de socialização

O consumo de notícias, muitas vezes, permite que as pessoas tenham tema de conversa nas interacções sociais.

Segundo os especialistas, este aspecto não deve ser esquecido quando se está a debater a sustentabilidade do jornalismo e os factores que contribuem para os hábitos de leitura de notícias.

Com a chegada das plataformas digitais, embora se tenha registado um aumento do tráfego nos sites noticiosos, em muitos casos pode ter-se perdido o benefício do consumo de informação num contexto mais comunitário.

Além disso, quanto mais as pessoas evitam as notícias, mais se expandem os grupos em que as pessoas não têm contacto com informação noticiosa.

Para contrariar essa tendência, algums redacções estão a tentar desenvolver o espírito de comunidade nas suas próprias plataformas online.

Por exemplo, o site da The Verge, publicação norte-americana que cobre tecnologia, ciência e cultura, inclui, na homepage, a publicação de comentários de leitores —seleccionados em função da sua qualidade e do potencial para gerar mais interesse.

Comunidades de nicho

 A criação de grupos com interesses e valores comuns sempre foi uma táctica usada pelos jornais para captar audiência, mesmo antes do mundo online.

No entanto, os participantes na conferência levantaram a necessidade crescente de ter cuidado para não criar “silos”, pois estes não só isolam mais as pessoas umas das outras, como deixam de fora grupos que já tendem a ser excluídos.

Os esforços para a sustentabilidade não podem ser feitos com recurso a iniciativas que excluem uma parte da população, lembrou Alicia Bell, directora do Fundo para a Equidade Racial no Jornalismo, da organização Borealis Philanthropy. “Temos uma oportunidade de fazer melhor”, afirmou a responsável.

Uma estratégia é a organização de conversas presenciais, como faz Ralph Thomassaint Joseph, correspondente do Documented, um site noticioso dedicado a notícias sobre e para as comunidades imigrantes em Nova Iorque.

Antecipar o futuro

Benjamin Toff, professor na Universidade do Minnesota e co-autor do livro Avoiding the News: Reluctant Audiences for Journalism, enfatizou que é preciso começar a fazer o trabalho de envolvimento de novas comunidades desde já, especialmente com públicos mais novos.

“Quando falamos com as organizações jornalísticas em que as pessoas mais confiam e quando percebemos os motivos por que o público confia nelas, a relação que é construída ao longo do tempo” tem um lugar importante, diz o académico. “Se não começamos a construir essa relação agora, as pessoas não estarão connosco daqui a dez anos”, acrescentou.

Seja como for, uma coisa parece ter ficado clara para os oradores e o público na audiência: a multiplicidade de abordagens necessárias hoje em dia — estar presente nas plataformas, investir nos encontros presenciais, prestar serviços úteis aos leitores, etc. — requer mais trabalho, embora nem sempre chegue a mais pessoas.

Assim, é necessário um elevado nível de colaboração entre organizações (jornalísticas e outras), mais financiamento (apelo aos financiadores) e um pensamento de longo prazo.

(Créditos da fotografia: Annie Spratt no Unsplash)