Ao longo de 2024, o Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, publicou vários estudos, artigos e entrevistas para analisar o estado do jornalismo na actualidade.

Este foi um “ano difícil para a profissão, com jornalistas a enfrentar um declínio na liberdade de imprensa, uma nova vaga de despedimentos e mudanças no ambiente das plataformas digitais”, lê-se num artigo de balanço do ano, que ajuda a entender como 2024 “marcou o jornalismo de formas que serão relevantes ainda em 2025”.

Principais temas revelados pelos estudos do Reuters Institute

  • Novos hábitos de consumo de informação

A leitura de notícias em novos ambientes digitais está a aumentar e de forma cada vez mais fragmentada, com as pessoas a recorrer a aplicações de mensagens e redes sociais de vídeo para aceder à informação.

Segundo o relatório anual do Reuters Institute, apenas um quinto (22%) dos consumidores de notícias online por todo o mundo consulta os conteúdos informativos nos sites e nas aplicações dos jornais — a maioria identifica as redes sociais e os agregadores de notícias como fontes de informação.

  • As controvérsias em torno da inteligência artificial (IA)

Embora muitos grupos de media tenham assinado acordos com as empresas tecnológicas de IA, os gestores acreditam que apenas os grandes jornais vão beneficiar destas parcerias, havendo pouco espaço para a captação de recursos por parte dos mais pequenos.

Ao mesmo tempo, muitos sites de notícias admitiram que bloqueiam o acesso dos chamados “crawlers”, sistemas automáticos de recolha de informação disponível online para treinar os modelos de IA.

Do ponto de vista dos utilizadores, muitas pessoas estão pessimistas quanto ao uso da IA nas actividades jornalísticas, acreditando que esta tecnologia tornará o jornalismo pior.

  • Questões sociais e confiança no jornalismo

Quanto à influência de vários actores na coesão social, um relatório revelou que os jornalistas e os media são vistos como dois dos elementos que mais provocam divisões sociais.

Num outro estudo, sobre a proporção de homens e mulheres em posições de chefia no sector dos media, os dados mostraram que apenas 24% dos líderes nas 240 marcas editoriais analisadas são mulheres.

Finalmente, as pesquisas sugeriram que os níveis de confiança no jornalismo têm vindo a cair mais nos países em que se consome menos televisão, deixando pistas sobre a relação entre as dinâmicas de confiança e as estruturas de consumo de informação.

Tendências a acompanhar

  • Papel desempenhado pelos influenciadores

Fora do ecossistema das redacções, tem vindo a aumentar, em vários países, o número dos chamados “news influencers”, influenciadores que partilham conteúdos noticiosos.

  • Presença da IA na esfera pública

Embora o tema pareça omnipresente, os jornalistas ainda estão a tentar perceber a melhor forma de usar a IA na produção e distribuição de notícias. Também o público ainda está a dar os primeiros passos na exploração destas tecnologias para aceder à informação.

De qualquer forma, têm-se expandido as possibilidades de recurso à IA para fins jornalísticos — tanto para o trabalho nas redacções como para o consumo pelos leitores.

  • Plataformas digitais

Uma vez que as pessoas têm cada vez mais acesso às notícias por via das redes sociais, as empresas de media têm de se adaptar a estas mudanças para chegar ao público.

Por outro lado, é preciso prestar atenção às dinâmicas políticas associadas ao uso das redes sociais, como no caso do abandono em massa do X, de Elon Musk, e consequente passagem dos utilizadores para outras plataformas, como o Bluesky.

  • Condições de trabalho desafiantes para os jornalistas

O exercício da profissão tem sido ameaçado não só pela “erosão da democracia” nalguns países, com ataques a jornalistas que fazem cobertura e escrutínio de governos e movimentos anti-democráticos, mas também pelas dificuldades económicas do sector. A par dos despedimentos, os jornalistas relatam estruturas de trabalho frágeis e necessidade de aceitar condições precárias para continuar a exercer a profissão.

Três estatísticas de destaque

  • Apenas 12% dos britânicos confiam que os media usarão a IA generativa de forma responsável.
  • Quase 4 em 10 pessoas (39%) dizem sentir-se assoberbadas pela quantidade de notícias publicadas e partilhadas diariamente.
  • Quase metade das pessoas (47%) acredita que as redes sociais têm um enviesamento político.

No artigo de balanço do Reuters Institute são, ainda, partilhados os projectos desenvolvidos com o apoio do instituto e estão disponíveis os links para todos os conteúdos publicados pela organização ao longo de 2024.

(Créditos: imagem gerada em IA por David Caswell, usada pelo Reuters Institute)