O que pensam os “Zillennials” sobre o trabalho nas redacções
A micro-geração Zillennial integra as pessoas nascidas nos anos 1990 e que ficam entre os Millennials (nascidos a partir dos anos 1980) e a Geração Z (pessoas nascidas a partir de 2000).
Esta é uma geração com características muito próprias de pessoas que ainda se lembram (pouco) da vida sem Internet, mas que já navegam muito bem o mundo dos memes e das redes sociais. Cresceram com adultos que ainda viam no trabalho a prioridade central da vida, ao mesmo tempo que já são influenciadas por uma geração que equilibra mais o emprego com a vida pessoal.
Por se tratar de uma geração com um perfil muito próprio e que está agora a chegar a posições de chefia, o Reuters Institute quis ouvir editores e gestores destas idades sobre o trabalho nas redacções.
Nesse sentido, foram entrevistados Jasper Wilkins, produtor na BBC, Mayu Kato, gestora de analytics na Vogue, e Anna Lagos, editora na edição espanhola da WIRED.
De seguida, apresentam-se algumas das percepções e das reflexões destes três gestores de equipas sobre a sua experiência na coordenação de profissionais de gerações muito distintas.
A Geração Z tem prioridades diferentes das outras gerações
A Geração Z (Gen Z) prefaz actualmente pelo menos um quarto dos profissionais no mercado de trabalho. É essencial perceber como se relacionam com o trabalho para conseguir reter o seu talento.
“As pessoas da Gen Z valorizam fortemente a empatia, o sentido ético e o equilíbrio trabalho-vida pessoal. Querem trabalhar num sítio que seja importante para elas e onde sintam que elas também são vistas como importantes. O contrato empregado-empregador é muito mais sentido como uma relação recíproca do que no passado”, descreve Jasper Wilkins. Anna Lagos concorda com esta visão.
Além disso, habitualmente, os profissionais da Gen Z e os Zillennials gerem de forma muito ágil as suas próprias contas nas redes sociais, pelo que chegam ao seu público directamente e eles mesmos são considerados uma marca, refere Mayu Kato. A gestora explica que esta realidade expande significativamente os espaços de projecção do trabalho.
Equipas multigeracionais são benéficas para o público
Os elementos da Gen Z são normalmente os primeiros a identificar uma história ou tema com projecção nas redes sociais. É, depois, necessário articular com os colegas mais velhos para perceber como é que esse conteúdo pode fazer sentido do ponto de vista editorial.
Além disso, os jornalistas mais experientes trazem uma “profundidade de conhecimentos”, “contexto histórico” e “competências de investigação” que são essenciais para um bom trabalho jornalístico.
“Fazer a ponte entre estas diferenças é uma vantagem significativa, mas requer um esforço consciente e respeito mútuo”, sublinha Mayu Kato.
“[Ter uma equipa multigeracional] é um desafio, mas também dá muito prazer”, partilha Anna Lagos. “Aumenta a nossa capacidade de pensar sobre diferentes públicos, sendo crucial para contar as nossas histórias a partir de novos ângulos”, acrescenta.
Os Zillennials estão especialmente bem posicionados para fazer a ponte entre gerações
“Eu cresci como adolescente a ler revistas em papel. […] Quando a empresa em que trabalhava passou pela transição digital, a minha compreensão de ambas as culturas deu-me uma visão preciosa sobre a melhor forma de adaptar as estratégias ao nosso público”, conta Mayu Kato.
Por outro lado, por estarem entre duas gerações com perfis muito distintos, os Zillennials conseguem adaptar-se tanto a contextos de média mais tradicionais e com hierarquias mais rígidas, como comunicar de forma mais eficiente com a Gen Z.
De modo geral, os entrevistados consideram que uma comunicação clara é essencial na gestão de profissionais de qualquer grupo etário.
Para terminar, Jasper Wilkins ressalva que, para ele, os estilos profissionais têm mais que ver com personalidades do que com características geracionais. “No fim das contas, eu não coordeno faixas etárias, eu coordeno pessoas. Como gestor, estou mais interessado nas necessidades individuais e nas perspectivas pessoais do que nas datas de nascimento”.
(Créditos da fotografia: Brooke Cagle no Unsplash)