Laurent Richard, jornalista de investigação, fundador e director executivo da Forbidden Stories, partilha a sua opinião num texto no Columbia Journalism Review: “Da Casa Branca ao Kremlin, estamos a assistir ao desenvolvimento de um novo eixo internacional, unido em torno de uma visão comum - os repórteres são ‘os inimigos do povo’. Embora possa ser mais perigoso fisicamente ser jornalista no Azerbaijão, no México ou na Nigéria do que nos Estados Unidos, as acções da administração Trump contra a imprensa em solo americano e no estrangeiro obrigam-nos a repensar o nosso trabalho”. 

O jornalista considera que as ameaças estão instaladas e que, por isso, a união deve ser a resposta dada pelos jornalistas. “Há mais de sete anos, fundei a Forbidden Stories, uma organização internacional baseada num princípio simples: se um de nós cair - seja assassinado, preso ou ameaçado - os outros levantam-se e continuam colectivamente o seu trabalho”, conta Laurent Richard, acrescentando que isto “não se trata apenas de solidariedade. É uma necessidade imperativa de informar o público sobre assuntos tão importantes quanto perigosos de cobrir - como crimes ambientais, corrupção e violações dos direitos humanos”. 

Desde 2017, as equipas da Forbidden Stories já colaboraram com uma rede de 110 organizações de imprensa e 300 jornalistas. Em sete anos, investigaram os casos de mais de vinte jornalistas assassinados ou presos, incluindo os de Regina Martinez, uma repórter mexicana, e Daphne Caruana Galizia, morta numa explosão de um carro em Malta. 

“Se aprendi alguma coisa durante este tempo foi que os assassinos de jornalistas e as administrações que ameaçam a imprensa pouco se importam com declarações. Não é que o trabalho de defesa não seja essencial - é vital - mas o que os inimigos da liberdade jornalística mais temem é ver os seus delitos e crimes expostos. O seu maior medo é saber que somos imparáveis. Porquê matar ou ameaçar um jornalista se há 49 outros prontos a assumir o projecto dessa pessoa?”, reflecte o jornalista. 

Laurent Richard menciona que uma das suas inspirações foi o Arizona Project, “a primeira experiência de colaboração entre repórteres na história do jornalismo”. Conta que em 1976, após o assassinato de Don Bolles, um jornalista em Phoenix, cerca de trinta repórteres continuaram o seu trabalho, agrupando-se e investigando suspeitas de fraude envolvendo políticos e indivíduos com ligações ao crime organizado. As suas descobertas foram publicadas com o apoio de uma organização sem fins lucrativos, a Investigative Reporters and Editors. 

“As parcerias entre redacções e repórteres quando as histórias são perigosas proporcionam protecção e recursos - e asseguram que a cobertura chega a grandes audiências. Os temas e os pares possíveis são numerosos: investigar a migração através da fronteira mexicana, associando redacções americanas e mexicanas; documentar os activos e o potencial conflito de interesses em solo americano e no estrangeiro de pessoas no poder; coordenar uma investigação global sobre as consequências do fim da ajuda financeira americana para o VIH, a tuberculose e outras doenças; os investigadores prevêem que, nos próximos anos, poderão morrer milhões de pessoas”. 

Laurent Richard defende que atravessar a fronteira americana como jornalista é um acto “susceptível de se tornar mais perigoso do que nunca” e ressalva que “se o trabalho ou o equipamento de um repórter for apreendido, os seus dados e materiais devem ser previamente guardados em segurança e partilhados com outros colegas”. 

O jornalista conta que, todos os dias, 170 jornalistas gravemente ameaçados recorrem à “rede de cofres” da Forbidden Stories e fazem questão de informar que, caso sejam detidos, a sua investigação continuará o seu rumo através dos seus colegas. Como Laurent Richard diz, é uma espécie de “seguro de vida para a informação”. 

Esta abordagem colaborativa obriga a uma mudança de paradigma: “Temos de passar do modelo de ‘lobo solitário’ para o de parceria, ao serviço de um projecto editorial que ultrapassa o âmbito do nosso próprio órgão de informação. Temos de trabalhar com colegas que ontem eram nossos concorrentes, criando e respeitando regras comuns e, por vezes, pondo de lado os nossos egos. No início, a coordenação é um pouco dolorosa, mas habituamo-nos". 

Laurent Richard crê que esta seja a única forma de reagir, para que o trabalho dos jornalistas não fique paralisado pelo medo. “Os teóricos da conspiração vêem-no como um reflexo corporativista de uma matilha movida pela mão oculta de um poder obscuro. Na realidade, é exatamente o oposto. Trata-se de defender um dos pilares fundamentais da democracia”, conclui. 

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