O jornalismo, as fontes e a perversão via “Twitter”

“Na ânsia de controlar a sua imagem pública e o alcance das suas mensagens, é cada vez mais comum que os políticos expressem opiniões e façam declarações públicas”, evitando a interacção jornalística, com “perguntas incómodas ou pedidos de esclarecimentos”, começa por dizer a jornalista e professora, Milagros Pérez Oliva, num artigo publicado em Cuadernos de Periodistas.
“Na realidade, muitas destas manifestações não têm por objectivo contribuir com informações ou elementos de discussão para o debate público, mas sim satisfazer outras necessidades de comunicação, como estabelecer uma posição pública, intervir numa controvérsia de forma controlada, ou lançar ideias ou dados que não resistiriam ao escrutínio de um interrogatório jornalístico”, aponta Oliva.
Segundo a jornalista, esta via, “também é frequentemente usada para incentivar campanhas de difamação contra um adversário político, ou replicar informações desfavoráveis. As razões são muito variadas e, portanto, não é fácil estabelecer um critério geral para avaliar se esse tipo de declaração deve ou não ser publicada” pelos media.
No entanto, é óbvio que esta “forma de proceder” por parte dos políticos, “reduz as possibilidades” de verificação através do “jornalismo rigoroso, que tem o dever de verificar todos os dados que oferece”.
Porém, Oliva considera que “os políticos são livres para escolher a forma e o canal onde desejam comunicar as suas mensagens. Mas o jornalismo tem a obrigação de ir além do interesse da fonte”, para divulgar “determinada informação”.
A professora indica que “se o depoimento ou mensagem divulgados nas redes sociais for de interesse informativo, não há motivo para não o reproduzir. Mas, neste caso, a publicação deve vir acompanhada de elementos de contextualização que permitam ao leitor aferir o alcance e o significado da informação prestada”.
Na opinião da jornalista, essa é uma informação relevante – “conhecer a forma como foi feita, a que obedece ou em que debate aquele tweet ou aquela afirmação se insere, sem a possibilidade de fazer perguntas”.
“Tendo em conta a tendência para a polarização e a tensão em que a política está a cair, um factor que deve ser levado em conta ao avaliar o interesse informativo, é se a manifestação contribui com algum elemento objectivo de interesse, ou se serve apenas para aquecer o debate”, recomenda a autora, concluindo assim o seu artigo.