Jornalista em balanço de carreira defende necessidade de “gerir bem os riscos”

A jornalista Rosa María Calaf foi a protagonista do nono episódio da segunda temporada de "Maestros del Periodismo", um podcast da Associação de Imprensa de Madrid (APM) - com a qual o CPI mantém uma parceria.
Na entrevista conduzida por José Antonio Piñero, director do podcast, a jornalista fala das suas referências jornalísticas femininas, das repórteres espanholas e estrangeiras nas quais se inspirou para aprender e desenvolver a sua vocação.
“Uma das minhas grandes referências foi Martha Gellhorn; ninguém se lembra dela e só se fala dela como a mulher de Hemingway, quando ela era muito melhor do que ele como contadora de histórias e como jornalista”, afirma.
Não deixou também se fazer um balanço do início de carreira, como uma das primeiras repórteres de rua, aquando do aparecimento das primeiras unidades móveis em Barcelona.
“Quando comecei na televisão, só havia a presença feminina de colegas que faziam locução, quase não havia jornalistas no ecrã ou repórteres mulheres”, recorda.
Assegura ainda que “vestia mini-saias e isso era uma exigência de liberdade, enquanto agora há muitos canais que, se uma mulher não se vestir assim, não aparece no ecrã".
"Ao longo da minha vida profissional, sempre quis que o papel das mulheres, que são o elo mais vulnerável, fosse visto, mas porque são obrigadas a sê-lo, não porque o são realmente".
Sobre a sua carreira afirma que sempre “quis estar nos noticiários” e que o seu interesse era “uma reportagem mais reflexiva” e não tanto “por uma reportagem pontual".
"A minha obsessão e o meu objectivo era ser repórter e trabalhar na área internacional", garante na entrevista.
Destaca ainda a enorme responsabilidade do jornalista e a importância de "saber como trabalhamos com este bem delicado e necessário que é a notícia, algo tão frágil e tantas vezes maltratado".
Sobre a cobertura em “situações extremas” relembra que “há três coisas que temos de ter bem claras: se vale a pena correr o risco, ser o mais honesto possível e manter o rigor".
"É preciso saber gerir muito bem os riscos, um jornalista morto não vale nada".
Calaf reflecte ainda sobre a transformação tecnológica que se tem verificado nos últimos anos com grande impacto na produção e consumo de informação.
"Vivi a mudança na forma como a informação é produzida e consumida: cada vez menos tempo para tudo, para preparar o que é transmitido e para se preparar para saber o que se quer transmitir", justifica.
A jornalista refere ainda que “todos temos de exigir uma educação para a literacia mediática, temos de saber como funciona a linguagem dos meios de comunicação social", defende.
Calaf começou a sua carreira na televisão em 1970, mais precisamente nos noticiários dos estúdios de Miramar da TVE em Barcelona - foi uma das primeiras repórteres do canal público.
Ao longo da sua carreira, recebeu vários prémios: entre eles, o Prémio Víctor de la Serna da Associação de Imprensa de Madrid (atualmente Prémio APM para o Melhor Jornalista do Ano) em 2008, pela cobertura dos Jogos Olímpicos de Pequim na TVE; o Prémio Ondas para o melhor trabalho profissional em 2001; o Prémio Cirilo Rodríguez para o melhor trabalho de correspondentes e enviados especiais em 2007 e o Prémio José Couso para a Liberdade de Imprensa em 2009.