A Mother Jones e o Center for Investigative Reporting (CIR) anunciaram que se vão fundir agora em 2024, como um único órgão de informação sem fins lucrativos.

A fusão tem data final de 1 de fevereiro e permitirá que as duas organizações unam seus pontos fortes e expandam o seu alcance, disseram os líderes de ambos os meios. A Mother Jones fez o seu nome através de sua revista e site progressistas, enquanto o CIR é mais conhecido pelo podcast e programa de rádio "Reveal". Ambos estão sediados em São Francisco e têm sido colaboradores desde que foram fundados na década de 1970.

Num artigo publicado no Mother Jones, Monika Bauerlein e Clara Jeffery justificam a decisão com o facto de a democracia estar em risco.

“A maioria das notícias sobre o negócio do jornalismo neste momento é sombria. Redacções famosas estão a ser esvaziadas e vendidas a fundos de investimento. As startups digitais, outrora muito populares, estão a reduzir e a fechar”, escrevem. 

“Até a rádio e a televisão públicas estão a despedir pessoal. Só este ano, os Estados Unidos perderam mais de 2.600 postos de trabalho em jornalismo e mais de 20 mil postos de trabalho nos media; desde a Grande Recessão em 2008, as redacções diminuíram pelo menos para metade. Não é por acaso que, durante este mesmo período, a desinformação e a propaganda passaram a dominar a nossa política, ao ponto de as eleições presidenciais do próximo ano... bem, honestamente, não precisamos de vos dizer o que está em jogo”, justificam.

Segundo Clara Jeffer, editora-chefe da Mother Jones, este meio “tem um grande alcance digital e um alcance limitado em plataformas de áudio, e o 'Reveal' é o inverso". "Assim, ao juntá-los, é realmente uma situação de um mais um igual a três."

De acordo com Jeffery, as conversas sobre uma possível fusão começaram no início deste ano, quando os líderes de ambas as redacções estavam a discutir questões enfrentadas pela indústria do jornalismo, como as pressões de financiamento.

O CIR passou por várias rondas de demissões – incluindo uma em abril – e tem verificado uma elevada rotatividade de liderança. 

Para o CEO do CIR, Robert J. Rosenthal, esta fusão com a Mother Jones foi uma oportunidade de criar uma organização de notícias com fluxos de receita mais diversificados e, consequentemente, mais sustentável, disse 

"O que foi realmente crucial foi o que eu chamo de infraestrutura de sustentabilidade que a Mother Jones tinha, que é muito mais diversificada e, francamente, mais sofisticada do que tínhamos no CIR", disse Rosenthal. "Eu realmente enquadro isso em torno da oportunidade e da criação de uma redacção muito mais sustentável ... e muito mais robusta."

Segundo escreveu a jornalista Angela Fu, num artigo do Poynter, esta fusão combinará os 50 mil doadores da Mother Jones e o apoio do CIR de fundações, diversificando o seu modelo de receita. As duas organizações já arrecadaram 21 milhões de dólares, distribuídos pelos próximos três anos, para ajudar a financiar a fusão.

Os dois meios já colaboraram anteriormente. Em outubro, por exemplo, a Mother Jones publicou uma investigação sobre uma cadeia de hospitais psiquiátricos que estava a lucrar com as estadias de longa duração de crianças adoptadas. 

O "Reveal" produziu depois uma versão em podcast. A fusão permitirá colaborações "mais coordenadas", disse Jeffery, diversificando “os mecanismos de narração”.

Após a fusão, a revista e o site da Mother Jones continuarão a existir, bem como o podcast "Reveal". A directora-geral da Mother Jones, Monika Bauerlein, manterá o seu título, enquanto Rosenthal se tornará director-geral emérito. Jeffery também manterá o cargo, uma vez que lidera uma redacção conjunta de 73 jornalistas.

A fusão resultará em quatro demissões na parte administrativa devido a redundâncias, disse Rosenthal, e o número total de funcionários da organização será de 118 pessoas.

“Quando esta fusão estiver concluída, poderá encontrar reportagens de investigação poderosas não só na nossa revista e nas nossas plataformas digitais, mas também na rádio, no seu podcast e na televisão. Se se preocupa com jornalistas que falam a verdade ao poder, esta é uma óptima notícia”, escreveram Monika Bauerlein e Clara Jeffery.

“O trabalho que o MoJo e o CIR produzem é um pouco diferente, mas altamente complementar – eles fazem rádio e podcasting; nós somos óptimos na publicação digital e impressa e nas redes sociais. Eles fazem documentários que aparecem na Netflix; nós contamos histórias em vídeo no TikTok e no Instagram. Mas partilhamos o mais importante: a nossa missão de fazer jornalismo profundo, de investigação e revelador, que chegue a audiências em todo o país, em todas as idades e grupos demográficos, para que aqueles que abusam do seu poder não fiquem impunes”, referem.

A CEO e a editora do Mother Jones relembram ainda que a revolução digital “mudou para sempre a forma como as notícias são criadas, entregues e pagas, e o jornalismo de investigação está em grande risco”. E referem que “as poucas organizações noticiosas comerciais que ainda se podem dar ao luxo de produzir este tipo de reportagens aprofundadas e de investigação estão cada vez mais a recorrer a paywalls para sobreviver – um modelo de negócio importante, mas que torna as notícias mais difíceis de aceder para muitas pessoas. Entretanto, a desinformação é abundante e gratuita”.

Assim, uma vez que, a Mother Jones e o "Reveal" atingem directamente uma audiência mensal de 10 milhões de pessoas e muitas mais através de parcerias em todo o país, com a fusão o objectivo é continuar a aumentar esse número e chegar a públicos que nem sempre foram servidos pelos meios de comunicação tradicionais do EUA.