Num artigo publicado no “Niemen Reports”, Katherine Reynolds Lewis aborda os desafios enfrentados pelos jornalistas num ambiente de constantes despedimentos e mudanças na indústria. 

Ao longo de 25 anos de carreira, a autora testemunhou, com esperança renovada, vários modelos de negócio, financiamento e avanços tecnológicos como possíveis salvadores do jornalismo. No entanto, muitas dessas estratégias falharam, resultando em demissões em massa, um ciclo previsível que afecta a estabilidade e o bem-estar dos profissionais da área.

“Cada nova ideia trazia consigo a esperança de que esta nova estrutura empresarial – ou financiador ou desenvolvimento tecnológico – seria a solução para salvar o jornalismo. Seriam os meios de comunicação digitais, as redacções sem fins lucrativos, o envolvimento da comunidade, o jornalismo participativo, os proprietários bilionários, os fundos de cobertura, o pensamento de produto, os modelos de prioridade social, o reinvestimento no jornalismo local ou a inteligência artificial?”.

Lewis destaca uma série de despedimentos significativos em várias áreas do jornalismo, independentemente do formato ou modelo de negócio. Desde despedimentos em organizações tradicionais até meios digitais e públicos, os cortes de empregos têm sido generalizados, evidenciando a precariedade do sector.

“Um ciclo típico: As organizações noticiosas são lançadas com uma grande visão, os líderes são aclamados como a nova esperança para salvar o jornalismo, fazem uma onda de contratações e, depois, verifica-se que investiram demasiado ou que a sua estratégia não deu resultado, pelo que ficam aquém das expectativas e despedem pessoas – muitas vezes no quarto trimestre. É tão previsível que uma colega disse-me recentemente que sofre de perturbação de stress pós-traumático todos os Outonos, devido ao número de despedimentos em massa e de aquisições que sofreu nesta época ao longo da sua carreira”, relata Lewis.

Só nos últimos seis meses, assistimos a despedimentos em massa e a cortes de postos de trabalho em toda a indústria do jornalismo:

“Washington Post” planeia eliminar 240 postos de trabalho através de rescisões, a “National Geographic” despediu todos os seus redatores e o “Los Angeles Times” cortou mais de 70 postos de trabalho.

A Rádio pública de Nova Iorque e a Rádio pública do Sul da Califórnia cortaram, respectivamente, 12% e 10% da sua força de trabalho, enquanto a “New England Public Media” eliminou 20% do seu efectivo.

No meio multimédia e digital, a “Barstool Sports” despediu 25% do seu pessoal e a “Bustle” reduziu 5% ao eliminar 21 postos de trabalho. Este sector assistiu a despedimentos ainda mais graves no início do ano, com a “Vice Media” a despedir mais de 100 dos seus 1500 funcionários e a encerrar a “Vice World News”, a “Buzzfeed News” a encerrar totalmente, a “Insider” a cortar 10% do pessoal e a “Vox Media” a cortar 7% do pessoal, afectando cerca de 130 pessoas.

“Será de admirar que 70% dos jornalistas locais sofram de esgotamento profissional e que muitos jornalistas de cor abandonem completamente o sector?”, questiona a autora.

Ao analisar esse cenário, Lewis sugere que a salvação não virá de milionários, filantropos, tecnológicos ou CEOs. Em vez disso, defende que os jornalistas devem assumir a responsabilidade pelas suas carreiras, construindo redes profissionais, investindo em formação contínua e mantendo-se informados sobre as notícias do sector, a fim de se adaptarem às constantes mudanças.

Para tal, destaca quatro passos fundamentais para a sobrevivência e prosperidade na carreira jornalística:

- Gerir activamente a carreira, estabelecendo metas e revendo regularmente o progresso;

- Aumentar o conhecimento sobre a indústria do jornalismo, acompanhando as tendências, movimentos e mudanças no sector;

- Desenvolver uma compreensão mais profunda do negócio, incluindo iniciativas de financiamento, empresas estáveis e mudanças no cenário do investimento;

- Enfrentar proactivamente a realidade da indústria, preparando-se para mudanças e adotando medidas para construir resiliência profissional.

O artigo enfatiza ainda a importância de os jornalistas adoptarem uma postura activa nas suas carreiras e de estarem preparados para se adaptarem às mudanças que o futuro reserva na indústria do jornalismo.

“Ao enfrentarmos proactivamente a realidade do nosso negócio e ao tomarmos estas medidas para construirmos a nossa resiliência profissional, podemos estar preparados para a inevitável mudança que se avizinha”, conclui.