A crescente tendência de pessoas que se autodenominam "evitadores de notícias" indica uma ruptura significativa na relação entre o público e a imprensa, revela um novo livro de Ruth Palmer, em coautoria com Benjamin Toff e Rasmus Kleis Nielsen, intitulado "Avoiding the News: Reluctant Audiences for Journalism".

Num artigo publicado no Poynter, Ruth Palmer aborda este tema e refere que “para quem pensa que o valor das notícias é óbvio, pode ser tentador descartar os ‘evitadores de notícias’ consistentes como uma causa perdida”, contudo, relembra que “os jornalistas que vêem como a sua missão servir todo o público deveriam pensar duas vezes sobre essa posição."

Segundo prevê no artigo, este número que já aumentou em 2022 e 2023, deverá continuar a aumentar em 2024.

“Num ano eleitoral nos Estados Unidos, muitos vão alegar fadiga de Trump. Outros, alimentados pela desconfiança das notícias convencionais, recorrerão a fontes alternativas ou a nenhuma notícia. A cobertura interminável das eleições, além de duas guerras em curso, irá testar o empenho até dos mais devotos amantes das notícias. E – como normalmente acontece quando as sondagens mostram um número crescente de pessoas que dizem que, por vezes ou frequentemente, evitam as notícias – vai haver muita discussão”, explica.

Este tipo de evitamento de notícias, o “evitamento selectivo de notícias”, não é provavelmente o tipo de evitamento de notícias com que os jornalistas se devem preocupar mais. As pessoas que afirmam fazer pausas intencionais em relação a tópicos específicos das notícias ou a todas as notícias – muitas vezes por as considerarem demasiado deprimentes ou esgotantes – acabam por consumir quase tantas notícias em geral como as pessoas que não dizem evitá-las intencionalmente. 

Segundo a autora, as pessoas que evitam selectivamente as notícias mantêm-se relativamente informadas e, muitas vezes, dizem sentir-se mais saudáveis quando não consomem notícias 24 horas por dia, 7 dias por semana. 

“Fazer estas pausas pode muito bem ajudá-los a conservar recursos emocionais para que possam continuar a consumir notícias e a participar na vida pública”, argumenta.

Contudo, os “evitadores consistentes” – pessoas que dizem consumir poucas ou nenhumas notícias ao longo do tempo – normalmente não pertencem a comunidades sociais que os incentivem a manter-se informados. 

“Estas pessoas têm muitas das mesmas queixas sobre as notícias que os 'evitadores selectivos' de notícias, mas ou tomaram medidas para as eliminar completamente das suas vidas ou nunca adquiriram esse hábito. Muitas vezes, consideram as notícias deprimentes, pouco fiáveis e repetitivas, bem como fixadas em assuntos (frequentemente políticos) difíceis de compreender, sem qualquer ligação clara às suas próprias vidas”, descreve Palmer.

A autora argumenta que, embora seja tentador descartar os "evitadores de notícias" como uma causa perdida, os jornalistas devem reconsiderar essa posição, pois os "evitadores consistentes" de notícias têm uma probabilidade desproporcionada de serem mais jovens, mais pobres, mulheres e pessoas que já se sentem alienadas da política.

“Décadas de investigação demonstram que o consumo de notícias ajuda as pessoas a participarem com mais conhecimento na vida pública. Se um número crescente de pessoas de grupos já desfavorecidos se afastar completamente das notícias, estarão menos informadas e menos equipadas para se defenderem numa arena política que já favorece os grupos dominantes”, explica Palmer.

Palmer salienta que resolver o problema do afastamento constante das notícias é desafiador, pois muitas das causas subjacentes são estruturais e estão fora do controlo dos jornalistas individuais ou organizações noticiosas. No entanto, a autora sugere que os meios de comunicação devem abordar activamente esta questão para cumprir a sua missão principal e proposta de valor. O livro agora lançado fornece algumas sugestões sobre como os meios de comunicação podem abordar efetivamente esse desafio.