Jornalistas independentes russos denunciaram o ambiente de insegurança que sentem, temendo a "onda de envenenamentos" que se tem verificado na Rússia. Galina Timchenko, cofundadora e editora da Meduza, o maior meio de comunicação independente russo,  e Ivan Kolpakov,  editor chefe da do mesmo meio, abordaram os desafios que enfrentam para dar notícias dentro da Rússia.  Os jornalistas estiveram presentes no Harriman Institute da Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque. Em declarações à agência Lusa, depois de questionado sobre os perigos de exercer jornalismo independente no país, Ivan Kolpakov confirmou que esses perigos não estão limitados às fronteiras o país e que continuam a aumentar os casos de jornalistas russos atacados no estrangeiro.

"Na Rússia é proibido ser jornalista independente. Vamos para a prisão se fizermos jornalismo independente, basicamente. Então, se alguém trabalhar para a Meduza, pode ser preso porque está a trabalhar para uma organização que foi considerada 'indesejável', explicou.

“Ou pode ir para a prisão porque é 'traidor do Estado', ou porque está a violar uma lei sobre 'divulgação de informação sobre o exército russo'".

“Talvez já tenham ouvido falar que a nossa repórter Elena Kostyuchenko foi envenenada na Alemanha no ano passado. Há uma onda de envenenamento de jornalistas e ativistas russos neste momento na Europa. Portanto, infelizmente, não é seguro ser jornalista russo em lugar nenhum", afirmou o editor.

Elena Kostyuchenko viajava de comboio para Berlim, quando subitamente começou a sentir-se mal, o que levou as autoridades alemãs a investigar uma suspeita de envenenamento.

Foi uma de três jornalistas russos exilados que subitamente ficaram doentes e apresentaram sintomas de envenenamento em capitais europeias durante o mesmo período, segundo o 'site' The Insider.

Atualmente, a Medusa está sediada em Riga, capital da Letónia. Até na Letónia, a autoridade de comunicação social do país revogou, em dezembro, a licença de transmissão do canal de televisão independente russo Dozhd.

"Estes são apenas alguns exemplos de como é ser um jornalista russo nos dias de hoje. Você foge do seu Governo, vai para a Letónia, um país vizinho e que faz parte da União Europeia, e então acaba expulso. É como se estivessem a lutar contra nós de ambos os lados. É perigoso ser jornalista russo? Eu acho que sim", disse Ivan Kolpakov, em declarações à lusa.

Em janeiro deste ano, Moscovo proibiu completamente a Meduza, declarando o meio de comunicação uma "organização indesejável" ilegal.

Em 2022, a Meduza recebeu o Prémio Fritt Ord pelo seu "jornalismo corajoso, independente e baseado em factos".