IPI preocupado com repressão sobre os “media” na Hungria

O Instituto Internacional de Imprensa (IPI) lançou um comunicado no qual alerta para a “iminente repressão do governo húngaro contra meios de comunicação independentes”, após os “comentários incendiários” de Viktor Orbán. O Primeiro-Ministro prometeu eliminar todos os meios de comunicação e organizações que recebam subvenções ou financiamento estrangeiro.
A situação agravou-se no dia 15 de Março, quando, durante um comício político em Budapeste, Orbán “acusou os jornalistas de servirem os interesses de potências estrangeiras e os comparou, bem como a outros grupos, a insectos que, em breve, seriam erradicados”.
O IPI explica que, durante o discurso e perante milhares de apoiantes, o Primeiro-Ministro afirmou que, nas próximas semanas, o Governo iria "desmantelar a máquina financeira que usou dólares corruptos para comprar políticos, juízes, jornalistas, pseudo-ONG's e activistas políticos”. Prometeu eliminar o "exército sombra", numa declaração que foi amplamente criticada.
As ameaças de repressão e “limpeza”, incluindo medidas contra os meios de comunicação e outros sectores, foram feitas após um discurso na sessão de abertura do Parlamento, em Fevereiro, no qual afirmou que seria necessário eliminar a "rede de corrupção que governa todo o mundo ocidental da política e dos media”, acrescentando que o seu Governo iria “até ao fim” com as novas leis.
Scott Griffen, director executivo do IPI, condenou os comentários, salientando que os mesmos marcam “um ponto de viragem preocupante no ataque contínuo e sistemático ao jornalismo independente”. Griffen destacou que a retórica “desumanizadora” usada para descrever jornalistas e outros membros da sociedade civil deve ser “fortemente condenada”.
“Qualquer projecto de legislação que reforce o trabalho do Gabinete de Protecção da Soberania na Hungria, já armado, se for apresentado, representará uma grande ameaça para grande parte dos meios de comunicação social independentes que operam no país e deve ter a maior oposição possível da União Europeia.”
Griffen lamentou que a União Europeia tenha falhado numa acção eficaz para impedir os esforços do Governo de Orbán em controlar os meios de comunicação social na Hungria, o que resultou numa “erosão alarmante da liberdade e do pluralismo dos meios de comunicação, com implicações prejudiciais para a democracia húngara”.
Segundo o IPI, a Hungria já possui o cenário mediático mais controlado da União Europeia. Ao longo da última década, o partido de Orbán conseguiu exercer uma influência sem precedentes sobre os meios de comunicação privados e públicos, o que lhe permitiu silenciar a imprensa independente e distorcer o mercado para consolidar uma narrativa pró-governamental dominante.
O IPI adianta que tem criticado fortemente o Gabinete de Protecção da Soberania, um organismo supostamente independente, mas dirigido por um aliado do Fidesz, que, ao longo do último ano, tem sido instrumentalizado para exercer pressão sobre os meios de comunicação social e outros que recebem financiamento estrangeiro.
“Embora as acusações contra os meios de comunicação social críticos de servirem interesses estrangeiros tenham aumentado desde a suspensão global do financiamento da USAID pela administração Trump, fazem parte de uma campanha mais longa de deslegitimação e estigmatização dos meios de comunicação social críticos pelo Fidesz”.
(Créditos da imagem: Unsplash)