De acordo com o The Fix, o Festival Internacional de Jornalismo 2025, realizado em Perugia, Itália, combinou aprendizagem, networking e descontração, criando um ambiente para encontros entre profissionais do jornalismo de todo o mundo. Com cerca de 180 sessões, o evento abordou temas como inteligência artificial e cobertura climática.

O destaque vai para os três temas centrais do festival, que foram apontados como aplicáveis de imediato nas redacções:

  • Promover a cultura correcta

A sessão “Designing the newsroom of 2025: rethinking structure, culture and leadership” destacou a importância de repensar a cultura das redacções. Lea Korsgaard, cofundadora e editora-chefe da Zetland, defendeu que os líderes devem criar ambientes que promovam “a criatividade, a coragem e a vontade de fazer coisas que nunca foram feitas antes”.

Na Zetland, as reuniões diárias começam com os colaboradores a cantar uma canção, um ritual que, segundo Korsgaard, ajuda a “levantar a voz” e encoraja a expressão. Para combater a fragmentação de equipas de trabalho, a Zetland promove eventos unificadores, como uma festa de Natal comum para todos os departamentos, "para combater especificamente qualquer divisão que possa surgir entre jornalistas e profissionais de marketing, por exemplo”. 

Aled John, diretor-geral adjunto da FT Strategies, acrescentou que as redacções devem adaptar-se ao facto de que “as audiências estão a ter um contacto menos directo com as notícias e a consumi-las em diferentes formatos”.

  • Sobre a inovação

Na sessão final do festival, intitulada “Erros, contratempos e expectativas não cumpridas”, destacou-se a importância de encarar o fracasso como parte do processo de inovação nos media.

Chris Moran, diretor de inovação editorial do The Guardian, partilhou o insucesso do projecto Atomic Explainers, concebido para ajudar os leitores a entender jargões com explicadores incorporados nos artigos. Embora bem recebido inicialmente, o projecto falhou por exigir actualizações constantes. “Os editores estavam a comprometer-se, para o resto das suas vidas de editores, a continuar a atualizá-la”, afirmou Moran.

Anita Zielina, CEO do Better Leaders Lab, criticou a falta de espaço nas redacções para reflectir sobre os erros: “O que eu vejo muito raramente são redacções onde a fase de reflexão é apreciada e apoiada”. Já o consultor de jornalismo Shirish Kulkarni destacou que, mesmo com adesão e execução correcta, projectos podem fracassar por motivos como mudanças estratégicas ou política interna. O seu novo foco é trabalhar com pessoas "que estejam abertas à ideia de transformar e melhorar.”

  • Envolvimento de toda a organização à volta da inteligência artificial

Na sessão “Fechar a lacuna de adopção da IA”, Heba Kandil, da Fundação Thomson Reuters, destacou que “uma grande lacuna diz respeito à implementação estratégica de uma nova ferramenta de IA na redacção e à reunião das pessoas nessa jornada”.

Luke Feltham, editor-chefe do Mail & Guardian da África do Sul, revelou que o jornal está a preparar um documento editorial, assinado por toda a equipa, que orientará o uso da IA. “Queríamos que fosse dito explicitamente que, tanto para nós agora quanto para os nossos sucessores no futuro, em nenhum momento o trabalho de alguém será totalmente ultrapassado pela IA”, afirmou, acrescentando que o público deve saber onde e como as ferramentas de IA estão a ser usadas.

Heba Kandil sugeriu a categorização das ferramentas de IA de acordo com a sua função, mapeando onde entram no fluxo de trabalho jornalístico e antecipar os “pontos de tensão ética”, elaborando estratégias de mitigação para cada um.

(Créditos da imagem: Eduardo Suárez/ Reuters)