Sensacionalismo e superficialidade substituem o jornalismo de qualidade nas plataformas digitais

Há dias, Elon Musk, o dono da "X", rede social anteriormente conhecida como Twitter, mandou eliminar o “preview” da publicação de manchetes ou “posts” para dar mais espaço para fotos, vídeos e ilustrações.
Num artigo publicado no Observatório da Imprensa, com o qual o CPI tem uma parceria, Carlos Castilho aborda a tendência de degradação da qualidade da informação nas principais plataformas de “social media”, como o “Facebook” e a plataforma “X”, que juntas têm quase 3,3 mil milhões de utilizadores em todo o mundo.
O que se traduz, segundo refere, numa diminuição deliberada das notícias a favor de conteúdos como memes e eventos chocantes.
As alterações recentemente efectuadas por Elon Musk, geraram uma onda de críticas por parte de jornalistas.
A mudança, segundo Castilho, “esconde um deliberado esforço da plataforma de sufocar o debate gerado por notícias jornalísticas para beneficiar conteúdos produzidos sobretudo por influenciadores e integrantes de grupos radicais, como o ‘gabinete do ódio’”.
Esta acção, ocorre ao mesmo tempo que dados recentes indicam que o Facebook viu uma queda significativa no número de publicações baseadas em jornais e revistas, com um declínio de 80%.
De acordo com os dados da empresa Similarweb, citados no artigo e publicados pelo “site” Axios, o número de menções a grandes jornais internacionais caiu de 120 milhões em agosto de 2020 para meros 20 milhões em agosto passado.
Castilho refere que esta mudança é uma reacção à disputa entre as grandes empresas de tecnologia e os órgãos de comunicação social em relação à cobrança de direitos de autor pelo uso de notícias e conteúdos jornalísticos. A consequência desta disputa é a perda de espaço para notícias e debates de qualidade nas redes sociais, afectando os utilizadores que dependem delas para obter notícias.
“O esvaziamento jornalístico da agenda diária das grandes plataformas digitais aconteceu de forma acelerada. Em junho último, os órgãos da imprensa mundial mais referenciados pela rede de Mark Zuckerberg eram os cinco maiores jornais norte-americanos”, escreve.
Segundo refere, a notícia jornalística mais mencionada pelos utilizadores do Facebook nesse mês teve 12 mil partilhas, o que se encontra muito longe do alcance antes da pandemia de covid-19.
A monitorização do Garbage Intelligence indica que apenas uma grande publicação estava entre as 10 mais referenciadas pelo Facebook, tanto em agosto como em setembro deste ano.
O "site" Axios mediu o declínio nos acessos de utilizadores às plataformas X e Facebook em 123 países e a maior queda foi do Facebook, com uma quebra de 42% dos acessos em 2015 para 28% em 2023. Neste mesmo período, as únicas plataformas que conquistaram novos utilizadores foram a TikTok e Instagram, que têm como foco publicações com o mínimo de texto e o máximo de imagens.
Castilho destaca ainda como as notícias sensacionalistas e superficiais estão a substituir as notícias de qualidade nas plataformas digitais, resultando numa degradação da informação disponível para os utilizadores, o que considera prejudicar a capacidade de análise e reflexão do público, criando um vácuo informativo. O autor cita ainda os investigadores suecos Jutta Heidder e Olof Sundin, que alertam para a necessidade de uma produção infraestrutural de significado para combater a desinformação nos ecossistemas informativos actuais.
A tendência em direcção ao "infotainment" e à superficialidade na imprensa e nas plataformas digitais reflecte a busca incessante dos meios de comunicação pela sustentabilidade financeira, levando à necessidade de repensar como lidamos com a informação, com um possível recomeço a partir do jornalismo local.