Após a ordem executiva do Presidente Donald Trump para desmantelar a Voz da América (VOA) - financiada pelo Governo, mas com independência editorial -, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) uniu-se aos funcionários e sindicatos da VOA para apresentar uma queixa legal contra a US Agency for Global Media, que supervisiona este órgão, assim como a conselheira sénior da USAGM, Kari Lake, e o CEO interino, Victor Morales.  

A 23 de Março, a RSF apresentou uma moção para uma ordem de restrição temporária no sentido de impedir a dissolução imediata da VOA e garantir a reintegração dos seus funcionários.  

Em comunicado, a organização explica que o seu trabalho de defesa dos jornalistas e do direito do público a uma informação fiável foi “gravemente prejudicado pela eliminação da VOA, uma vez que esta é uma das fontes mais fiáveis - se não a única - de informação independente em muitas partes do mundo onde a RSF e os seus correspondentes operam”. 

Clayton Weimers, director executivo da RSF USA, é citado no comunicado: “Os regimes autoritários de censura, como o Kremlin e o Partido Comunista Chinês, estão a torcer pela morte da Voz da América. É claro que a acção de Donald Trump encorajará repressões mais severas contra jornalistas e a liberdade de imprensa, colocando a VOA e a equipa da RSF, correspondentes, voluntários e apoiantes em maior perigo. A RSF é obrigada a agir para proteger a VOA e a comunidade de liberdade de imprensa em geral”. 

A Voz da América foi criada em 1942 para combater a propaganda nazi com informações precisas e, embora seja financiada pelo governo dos EUA, mantém independência editorial, conforme a Lei de Radiodifusão de 1994, que proíbe a interferência governamental. É o maior e mais antigo organismo de radiodifusão internacional dos EUA, produzindo conteúdos em 47 línguas. Os jornalistas da VOA enfrentam “sérios perigos para manter o público informado”. Neste momento, dois jornalistas estão detidos: Sithu Aung Myint, preso em 2021 em Myanmar, e Pham Chi Dung, condenado a 15 anos de prisão no Vietname. 

“A RSF existe para defender jornalistas como Sithy Augn Myint e Pham Chi Dung, bem como os milhares de jornalistas que foram sumariamente demitidos como resultado da purga de Donald Trump da USAGM. A missão da RSF também se estende à defesa do direito de todos os cidadãos a uma informação fiável. Cada vez que o trabalho da RSF é frustrado pela ausência da VOA, a organização e as pessoas que ela defende sofrem danos irreparáveis. É por isso que a RSF está a procurar urgentemente uma solução legal para proteger a integridade da VOA”, explica a organização. 

Os Estados Unidos ocupam o 55º lugar entre 180 países e territórios no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da RSF de 2024, tendo caído 10 posições em relação a 2023.

(Créditos da imagem: Annabelle Gordon - Reuters)