A verdadeira inovação do jornalismo vai além do abraçar da tecnologia

A busca pela verdadeira inovação no jornalismo vai além de abraçar tecnologias emergentes e tendências, defende Leezel Tanglao, editora-chefe adjunta do “Dallas Morning News” e directora do projecto Tayo da FYLPRO, num artigo publicado no NiemanLab.
“Durante anos, a palavra inovação tem sido usada de forma tão vaga nos círculos de notícias que leva à pergunta: ‘Nós realmente tentamos ser tão inovadores quanto poderíamos ser?’", questiona.
“Estou a falar de inovação não só nas áreas da tecnologia, da IA ou das finanças, mas também de inovação na forma como as redacções abordam os temas e as histórias”, detalha.
Para Tanglao, é necessária uma mudança fundamental na abordagem das redacções em relação aos temas e histórias, centrando-se na comunidade e estabelecendo parcerias genuínas desde o início.
“Refiro-me a contar histórias através da comunidade. Refiro-me a capacitar a comunidade, sendo verdadeiros parceiros desde o início”, explica.
Experiências recentes, como o seu envolvimento no projecto Tayo, revelam o poder dessa inovação. Inicialmente concebido como um "help desk" virtual para combater desinformação sobre a Covid-19, o Tayo evoluiu para um centro de inovação para a diáspora filipina. A colaboração interdisciplinar, envolvendo sectores médico, jurídico, académico e tecnológico, resultou em apresentações em conferências globais, destacando abordagens inovadoras para combater desinformação e garantir equidade de dados.
“Temos estado este ano numa digressão interdisciplinar de palestras sobre o nosso trabalho para combater a desinformação e garantir a equidade de dados num mundo onde há falta de dados desagregados”, escreve.
“Falámos em algumas das maiores conferências do sector fora do jornalismo, incluindo a RightsCon, a International Communication Association, a National Communication Association, a National Academies of Science, Engineering and Medicine, a People's Public Health Conference e a American Public Health Association”, afirma.
O desafio é estender essas experiências para fora das zonas de conforto da indústria jornalística, promovendo um impacto colectivo mais amplo e rompendo com as limitações existentes. Participar em conferências académicas, convenções jurídicas ou reuniões de saúde pública, mesmo sem conhecimento prévio, pode enriquecer a perspectiva e fornecer insights valiosos para abordar questões importantes.
Ao procurar conhecimento em contextos diversos e ao envolver-se com comunidades, os jornalistas têm a oportunidade de criar narrativas mais ricas e significativas.
“Só destas duas conferências, tirei ideias e ideias iniciais sobre a forma de chegar ao público que nós, nos media tradicionais, temos tentado alcançar desde sempre. Desde a linguagem culturalmente adaptada que utilizam para falar com as comunidades até à captação das suas histórias através de histórias orais”, defende.
“Desafio-vos a saírem das vossas redacções, a participarem naquela conferência académica, naquela convenção jurídica ou naquela reunião de saúde pública onde não conhecem ninguém – não apenas para procurar histórias ou fontes, mas para se enriquecerem com uma forma diferente de pensar sobre um tópico ou uma questão”, argumenta, garantindo que “ficará agradavelmente surpreendido com o resultado e a sua participação torná-lo-á, por sua vez, um melhor jornalista".
Esta aprendizagem contínua, combinada com um verdadeiro compromisso com as comunidades, constrói o caminho para um jornalismo holístico que atende às necessidades e desejos do público, resultando em uma participação mais activa e significativa.