O actual conflito entre Israel e o Hamas, tem sido o tema central de grande parte dos noticiários, mas também tem mostrado outro lado do acesso à informação: as transmissões “online” por quem assiste de perto ao conflito.

Num artigo publicado no Observatório da Imprensa, com o qual a CPI tem uma parceria, Carlos Wagner destaca o papel central das transmissões “online”, através de smartphones, na narrativa dos eventos. 

Carlos Wagner destaca a forma como a guerra a decorrer está a ser extensamente coberta pelos media e também pelas redes sociais. Os civis estão a recorrer aos seus dispositivos móveis para documentar e partilhar em tempo real os acontecimentos. 

“Em 22 de março de 2022 escrevi o post Os pais dos soldados da guerra da Ucrânia e o destino dos seus filhos’. Eles ficam sabendo do destino do filho no momento exacto do acontecimento, porque a guerra é transmitida online pelos celulares”, relembra.

Por isso, as transmissões online estão a desempenhar um papel significativo na narrativa desta guerra, incluindo a cobertura de ataques, baixas, além de histórias pessoais de pessoas afectadas pelo conflito.

“A retaliação que o exército israelita está a fazer na Faixa de Gaza, com artilharia e bombardeios aéreos, também está a ser transmitida online pelos celulares dos moradores. A história dessa guerra será contada pelas imagens e depoimentos que circulam nas redes sociais”, afirma.

Contudo, à medida que os acontecimentos se vão desenrolando, o foco dos media vai alterando. Segundo observa o autor, depois de um foco mais centrado no número de vítimas, a atenção dos media está agora direccionada para questões mais críticas, como por exemplo de que forma o Hamas conseguiu planear uma operação da magnitude do ataque que levou ao agravamento do conflito sem ser detectado pelos serviços de informação israelitas, considerados uma das melhores do mundo, e por que motivo a resposta israelita foi demorada. 

O autor sugere que a situação legal e política do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pode ter influenciado esse aspecto.

“Os jornalistas, em especial os israelitas, lembraram que Netanyahu responde a duas acusações criminais na Justiça. E que, por conta disso, vem tentando dar um golpe judicial, mudando as leis do país. Nos últimos meses, manifestantes têm lotado as ruas e avenidas das cidades israelitas pedindo a cabeça do primeiro-ministro”, escreve Wagner.

O autor cita ainda um artigo do jornalista Thomas Friedman, publicado no “The New York Times” que, “de maneira serena e cheio de bons argumentos”, afirma que, “no fim de tudo, Netanyahu deverá prestar contas perante a Justiça.

Wagner refere ainda que outra notícia que circulou massivamente foi a “história” de que os serviços de inteligência egípcios teriam alertado as forças armadas israelitas sobre a possibilidade de uma grande ofensiva do Hamas – uma informação desmentida pelo primeiro-ministro. 

Citando o livro “A Primeira Vítima”, do jornalista australiano Phillip Knightley (1929-2016), Wagner reitera que a primeira vítima de uma guerra é a verdade e destaca, por isso, a importância da verificação dos factos e a forma como a tecnologia permite, hoje em dia, acompanhar os acontecimentos em tempo real e escrever a “real história dos factos”.