Cada nova geração levanta desafios àqueles que têm de tomar decisões nos jornais, “e a Geração Z não é certamente excepção”, diz um artigo do Better News, um projecto do American Press Institute, referindo-se às pessoas nascidas aproximadamente entre 1995 e 2010.

Estes jovens “têm desafiado as organizações de media tradicionais com os seus hábitos noticiosos hiper-sociais, em várias plataformas e de formato curto”.

“Mas os jornalistas da Geração Z também têm sido desafiantes dentro das próprias redacções”, continua o texto. Os profissionais mais jovens trazem “novas filosofias de trabalho”, “noções de objectividade disruptivas” e “forçam a indústria dos media a tornar-se mais inclusiva e ousada”.

A reacção de confronto entre gerações não é nova, e, mais uma vez, é possível criar espaços de aprendizagem intergeracional, se houver boa comunicação.

O Better News reuniu os testemunhos de seis jornalistas da Geração Z acerca daquilo que estes profissionais gostavam que as suas chefias entendessem sobre a forma como a sua geração se posiciona no jornalismo.

Repensar a objectividade

“As gerações mais novas estão a perceber que a ‘objectividade’, tal como é ensinada, não existe” e que “os enviesamentos são inevitáveis, pelo que é importante reconhecê-los”, afirma Nika Bartoo-Smith, repórter dos jornais digitais Underscore Native News e ICT.

Além disso, tem havido também um cada vez maior reconhecimento de que é uma “mais-valia ter pessoas de uma comunidade a fazer cobertura dessa mesma comunidade”, acrescenta a jornalista.

Contextos de trabalho mais diversos

Segundo um inquérito do Pew Research Center de 2022, 68% dos jornalistas entre os 18 e os 29 anos consideram que as suas organizações têm pouca diversidade étnica, e 44% consideram que falta diversidade sócio-económica. Para os jornalistas com mais de 65 anos, as percentagens são de 37% e 22%, respectivamente.

“Trabalhei em seis redacções nos EUA e só tive duas editoras mulheres. Uma destas mulheres era negra”, descreve Sonia A. Rao, uma das jornalistas ouvidas pelo Better News e que se encontra actualmente a trabalhar como bolseira para a Reuters.

“Tenho tido a sorte de trabalhar com grandes editores, mas ter editores e pessoas em lugares de chefia com quem me identifique faz a diferença na cultura da redacção, nas histórias que lhes consigo apresentar e na minha relação com eles — e na relação das redacções com os seus leitores”, defende a jornalista.

Valorização do próprio trabalho

 “Tenho observado muitas diferenças geracionais em relação ao salário”, diz o jovem jornalista Joshua Bay. “Parece que algumas pessoas ficam chocadas, ou pensam que se é louco, se se abordar o assunto”, descreve.

Ao mesmo tempo, Sonia A. Rao considera que não é justo “caracterizar os jornalistas mais jovens como desleais” em relação à profissão. Para Rao, “o estado da indústria tem tornado cada vez mais difícil ter uma carreira estável”, e as pessoas precisam de receber “o suficiente para pagar as suas contas”.

Os jornalistas da Geração Z esperam, por isso, ser pagos pelo seu tempo e trabalho. No entanto, alguns gestores em organizações de media mais velhos ainda acreditam que uma pessoa nova tem de mostrar o que vale antes de começar a receber.

Os jovens jornalistas enfatizaram ainda a prioridade que dão ao bem-estar, à saúde mental e aos limites entre vida profissional e pessoal.

Mentores e formação podem ser estratégias para reter talento

Muitas gerações de jornalistas aperfeiçoaram as suas competências enquanto viam os mais experientes trabalhar. Os contextos actuais de trabalho remoto ou híbrido não permitem que se proporcionem estas oportunidades.

“É cada vez mais difícil desenvolver relações de mentoria de sucesso”, considera Tristan Wood, produtor sénior na WFSU Public Media, em Tallahassee, na Flórida. “Há cada vez menos oportunidades para as interacções amigáveis, necessárias para o estabelecimento de uma ligação de mentoria”, acrescenta, explicando que os mais novos acabam por só ter contacto com os mais velhos em reunião alargadas.

O domínio das tecnologias

Finalmente, nenhuma discussão sobre diferenças geracionais numa redacção está completa sem se falar em tecnologia, considera o artigo.

“Tenho reparado que os jornalistas mais velhos tendem a dar prioridade aos métodos de reportagem tradicionais e que às vezes são reticentes na adopção de ferramentas ou abordagens digitais novas”, partilha Jamese Branch, do Poynter Institute.

“Mas os profissionais mais novos, incluindo eu, estão ansiosos por experimentar formatos multimédia, estratégias nas redes sociais e outras abordagens para chegar ao público”, continua.

A Geração Z pode ajudar as redacções a fazer a transição para as novas formas de comunicar, “mas apenas se as chefias estiverem abertas a ouvir as suas sugestões”, sublinha o artigo.

(Créditos da fotografia: Annie Spratt no Unsplash)