Depois de ter sido assumida a situação de insolvência da Trust in News (TIN) por parte da administração e convocada assembleia de credores para apresentação de um plano de recuperação, os trabalhadores do Grupo reagiram apelando ao apoio de investidores e solicitando o pagamento dos salários em atraso, noticia o Eco.

Luís Delgado, proprietário da TIN, respondeu no próprio dia, lamentando a situação e atribuindo parte da responsabilidade aos trabalhadores pelas quebras nas receitas.

O Grupo detém 16 títulos, entre os quais a VisãoExameCarasActiva e Courrier Internacional, e emprega cerca de uma centena e meia de pessoas.

Trabalhadores “não vão baixar os braços”

No plenário realizado no passado dia 18 de Novembro, os trabalhadores do Grupo decidiram agendar acções de protesto para “sensibilizar a sociedade civil e o poder político para as dificuldades que enfrentam todos os dias e para a importância de salvar todos os títulos”, diz o comunicado, citado pelo Eco.

O texto refere, ainda, um pedido dirigido a Luís Delgado no sentido de que sejam pagos os salários e subsídios em atraso, nomeadamente “alguns salários de Setembro, salários de Outubro, subsídios de férias, cinco subsídios de alimentação”, entre outras remunerações.

Os trabalhadores querem, também, ter acesso, “com carácter de urgência”, à informação disponível sobre o projecto de recuperação que será apresentado aos credores.

Numa altura em que “decidiram tornar pública a sua luta face ao imobilismo da administração ao aumento da dívida, ao perpetuar dos salários em atraso, ao chumbo do Processo Especial de Revitalização (PER) e à iminente insolvência”, os trabalhadores afirmam que “não vão baixar os braços”.

Administração dará resposta em breve aos “ultimatos”

Entretanto, a administração emitiu um comunicado aos trabalhadores anunciando que os salários em atraso de Setembro seriam pagos no dia 19 de Novembro.

Luís Delgado adianta que a empresa "tem feito todos os esforços para manter em dia os salários e subsídios de todos os trabalhadores, algo que, infelizmente, ainda não conseguiu cumprir integralmente", cita o Expresso.

A administração diz, também, que "tomou boa nota do comunicado e das reivindicações aprovadas em plenário” e que “dará uma resposta directa aos diversos ultimatos muito em breve”.

A administração acrescenta que “sempre assumiu a responsabilidade por aquilo que não conseguiu realizar ou, de forma transparente, pelo que decidiu não fazer, nunca por incúria, e muito menos por irresponsabilidade”, numa resposta às críticas que lhe foram apontadas numa declaração pública assinada por um grupo de 45 pessoas que já estiveram ligadas aos títulos do Grupo, entre os quais Adelino Gomes, Césario Borga, Henrique Monteiro, Inês Pedrosa, e muitos outos.

No comunicado da administração, a responsabilidade é, entretanto, atribuída aos trabalhadores.

“A administração sempre exigiu — e continua a exigir — total e completa responsabilidade a quem concebe, cria, escreve e publica as revistas, que registam quedas contínuas, de 2018 a 2024, nas vendas em banca, na publicidade, nas assinaturas e outras receitas, incluindo as digitais”, diz o comunicado.

“Há, sempre houve, independentemente das condições, um declínio profundo e insustentável de todas as publicações. Justificações há muitas, mas receitas poucas”, continua.

A administração aproveitará “para voltar a divulgar, se necessário publicamente, o desempenho dos principais OCS [órgãos de comunicação social] da TiN e o seu impacto nesta situação profundamente lamentável", conclui o comunicado.

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) já veio expressar a sua “profunda incredulidade” perante a resposta da administração da TIN ao comunicado dos trabalhadores, cuja atitude de luta pela preservação dos postos de trabalho “não se compadece com os termos revanchistas usados no comunicado da administração”.

“O SJ entende com toda a claridade que é às equipas de gestão do grupo que cabem as estratégias para manter a viabilidade financeira dos títulos”, lê-se na nota publicada no site do SJ.

Recorde-se que a TIN submeteu em Maio deste ano um Processo Especial de Revitalização, no sentido de tentar renegociar as suas dívidas. A empresa, que tem um capital social de dez mil euros, deve, no total, quase 33 milhões de euros, sendo o principal credor o Estado (17 milhões de euros).

O PER foi reprovado no dia 5 de Novembro com os votos contra da Autoridade Tributária e da Segurança Social, entre outros credores, tendo a empresa anunciado que não se opunha à insolvência e que vai apresentar um plano de insolvência com recuperação, para evitar a liquidação e o consequente fecho das publicações.

Esse plano será votado em assembleia de credores, a realizar até ao início de 2025.