As redacções são, cada vez mais, espaços em que se cruzam jornalistas de várias gerações, com formas de ligação ao mundo muito diferentes. Esta é uma oportunidade para potenciar a colaboração entre recursos e saberes muito diversos. Mas, para isso, é preciso evitar as relações disruptivas entre os profissionais das várias idades.

 O projecto Better News, do American Press Institute (API), reuniu algumas estratégias para estimular as ligações inter-geracionais nas redacções, num artigo assinado por Marci Alboher, vice-presidente na CoGenerate, uma organização sem fins lucrativos dedicada à aproximação entre gerações.

A lista resulta das partilhas feitas num encontro com chefias editorais que participaram no programa “Table Stakes Local News Transformation”, do API.

“As pessoas em posição de liderança precisam de criar equipas multigeracionais prósperas se quiserem chegar ao público mais jovem sem alienar os leitores de longa data”, começa por dizer o artigo.

Estratégias para o sucesso

  • Partilhar o poder

Além de assinarem peças conjuntas, os jornalistas de diferentes gerações podem colaborar noutras tarefas, tais como a gestão da equipa. Algumas publicações jornalísticas académicas usam este modelo, ficando um profissional mais velho responsável pela angariação de fundos e pelo acompanhamento como mentor, e o aluno pela gestão editorial, por exemplo.

  • Dar oportunidade aos mais novos para crescer

“Muitos jornalistas jovens chegam às redacções com ‘marcas’ pessoais fortes e muitos seguidores nas redes sociais”, descreve o artigo, perguntando, de seguida: “Como é que se pode usar esse tipo de experiência para aumentar a atracção do público mais novo?”

A autora resume algumas propostas: criar plataformas para que estes jornalistas comuniquem directamente com os leitores; garantir que os jovens profissionais têm espaço para partilhar a sua visão nas reuniões e outras instâncias de decisão; dar oportunidade aos mais novos para participar em conferências e encontros do sector, bem como em formações para liderança.

  • Criar espaços para partilhas inter-geracionais

Um exemplo real: um repórter sénior de economia fez parceria com um jovem jornalista com forte presença no TikTok. O resultado foi uma série sobre finanças pessoais que se tornou viral e chegou a um público completamente novo.

  • Estar disponível para novas conversas

Os novos jornalistas trazem temas e questões que podem, por vezes, ser desconfortáveis ou sentidas como estranhas para aqueles que já estão na profissão há mais tempo. De que forma se podem criar espaços seguros para que estas conversas aconteçam?

  • Ouvir os mais velhos

Os jornalistas mais velhos “têm conhecimento histórico” dos acontecimentos, “têm boas redes de contactos”, já “fizeram a cobertura de ciclos de notícias que se continuam a repetir”, entre muitas outras áreas de experiência que lhes dão uma visão enriquecida sobre as situações vividas numa redacção. A criação de espaços de partilha de conhecimentos e de mentoria pode trazer muitas mais-valias.

  • Possibilitar programas de reforma faseada

Uma saída gradual da profissão pode trazer benefícios tanto para os próprios profissionais como para a estrutura. Por um lado, os jornalistas têm a possibilidade de continuar a par das novas tendências na profissão; por outro, partilham conhecimento institucional e a sua valiosa experiência na gestão de temas sensíveis ou na cobertura de assuntos particularmente complexos.

A autora termina a lista alertando para duas questões: 1) os preconceitos em relação à idade funcionam nos dois sentidos, pelo que importa criar distância relativamente a ideias feitas e ter disponibilidade para ouvir realmente a história de cada pessoa; e 2) os benefícios de cruzar pessoas de diferentes idades também se verificam no que diz respeito a outras áreas de diversidade.

(Crédito da fotografia: Kenny Eliason no Unsplash)