Foi publicado no passado dia 17 de Junho o já habitual relatório anual Digital News Report, do Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Este é um documento de referência para o sector dos média, oferecendo uma descrição pormenorizada da forma como a população mundial percepciona o jornalismo e se relaciona com as notícias.

Para esta 13.ª edição do relatório, foram ouvidas cerca de 95 mil pessoas de 47 mercados, distribuídos por seis continentes. Portugal foi um dos países analisados, existindo um relatório específico sobre a realidade portuguesa. O Clube Português de Imprensa fez também um resumo especialmente dedicado a esses dados, que pode ser lido aqui.

Todos os anos o Reuters Institute vai actualizando as perguntas dirigidas aos participantes do estudo, ajustando-se às transformações sociais. Desta forma, os dados recolhidos reflectem o contexto social e o ecossistema mediático de cada momento.

Este ano, os grandes temas em torno dos quais o relatório está organizado são: confiança nas notícias, percepção sobre o uso da inteligência artificial (IA) no jornalismo, necessidades dos consumidores, predisposição para pagar por notícias, e influenciadores como novas fontes de notícias.

Estes são alguns dos principais resultados discutidos no relatório:

  • As plataformas digitais (redes sociais, motores de busca e agregadores de notícias) continuam a ser o principal ponto de entrada para as notícias online. Apenas 22% dos participantes no estudo, média em todos os mercados, dizem recorrer aos sites e às aplicações dos jornais para procurar notícias — o que equivale a menos dez pontos percentuais comparando com 2018.
  • Tem havido um declínio no uso do Facebook como fonte de acesso a notícias e um aumento de plataformas alternativas, incluindo aplicações de mensagens e redes sociais com vídeo.
  • Algumas das redes sociais mais usadas semanalmente para aceder às notícias são o YouTube (31%), WhatsApp (21%), TikTok (13%) e X (10%).
  • O formato de vídeo é cada vez mais procurado, especialmente pelos mais jovens. Pelo menos 66% dos inquiridos vêem notícias em vídeos curtos todas as semanas, e 51% acompanham vídeos noticiosos mais longos. Estes vídeos são vistos nas plataformas online (72%), mais do que nos sites dos jornais (22%).
  • Quanto a fontes que captam a atenção do público, tem havido um aumento de comentadores, influenciadores e jovens criadores de notícias. O relatório discute o papel destas fontes e dá exemplos de figuras de referência nalguns países.
  • Cerca de seis em dez pessoas (59%) dizem estar preocupadas com a dificuldade de distinguir o que é real e o que é falso nas notícias online — mais três pontos percentuais do que no ano passado. Os números são significativamente mais altos na África do Sul (81%) e nos EUA (72%). O TikTok e o X são as redes sociais em que esta preocupação é mais acentuada.
  • O público sente-se confortável com o uso da IA por parte dos jornalistas para tarefas mais operacionais (tais como, transcrições e traduções), mas nem tanto para produção de conteúdos ou de textos.
  • Quanto à confiança nas notícias, o valor mantém-se estável nos 40% — apenas quatro em dez pessoas dizem confiar de forma genérica nas notícias. O valor mais alto é registado na Finlândia (69%) e o mais baixo na Grécia e Hungria (ambos com 23%).
  • Embora o interesse nas notícias tenha aumentado nalguns países, há casos em que a queda nos últimos anos tem sido muito acentuada. Por exemplo, na Argentina, o interesse nas notícias caiu de 77% (2017) para 45% (2024); no Reino Unido, o valor actual é metade do de 2015.
  • Outro fenómeno que tem vindo a ser estudado é do evitamento das notícias por parte do público. Cerca de quatro em cada dez pessoas (39%) dizem que evitam as notícias às vezes ou regularmente — mais três pontos percentuais do que no ano passado, e mais dez pontos do que há sete anos. Os aumentos mais significativos foram registados no Brasil, Espanha, Alemanha e Finlândia. Em resultados mais qualitativos, a constante presença das guerras nos ciclos noticiosos é apontada como um dos motivos para este comportamento.
  • Relativamente às necessidades do público, os dados sugerem que os jornais estão demasiado dedicados a ir fazendo actualizações das principais notícias, em detrimento de oferecer diferentes perspectivas sobre os assuntos ou de publicar reportagens com abordagens inovadoras.
  • Finalmente, quanto às subscrições, 17% dos inquiridos dizem pagar por notícias online (dados apenas de 20 países), com os valores mais altos a serem registados na Noruega (40%) e na Suécia (31%), e os mais baixos no Japão (9%) e no Reino Unido (8%). Depois do aumento durante a pandemia da COVID-19, o número de subscrições parece ter estagnado — 17% é o valor dos últimos três anos.
  • Ainda no que diz respeito às assinaturas, verifica-se que os grandes jornais dominam os mercados, com publicações como o New York Times (10 milhões de subscritores), o Le Monde (500 mil) e o El País (300 mil) a distinguir-se, cada um no seu mercado.

O relatório completo está disponível aqui, e a metodologia pode ser consultada aqui.

(Créditos da imagem: Freepik)