Num novo artigo para o Observatório da Imprensa do Brasil, parceiro do CPI, Carlos Castilho chama a atenção para o crescente número de notícias e reportagens que abordam a possibilidade de uma “explosão de uma bolha especulativa em torno da chamada inteligência artificial” e as suas potenciais repercussões sobre o sistema financeiro internacional. O autor observa que “a grande maioria das notícias embute um subtil alarmismo”, mas sublinha que quase nenhuma delas fornece ao público “informações sobre como lidar com um crash financeiro globalizado”. 

Segundo Castilho, a cobertura jornalística deste assunto ainda se mantém no campo das hipóteses, mas revela um viés em favor das elites financeiras e políticas: “não há nenhuma preocupação em informar a partir da óptica de quem não tem um airbag financeiro para amortecer o choque de um provável caos nas finanças mundiais”. 

O autor destaca ainda que a inteligência artificial domina o cenário económico norte-americano, tendo sido responsável por “92% dos investimentos que alimentaram o crescimento de 3,8% do PIB norte-americano” no segundo trimestre de 2025. Nas bolsas de valores, a IA ganha protagonismo, representando “40% dos negócios”, e as suas acções “batem recordes de valorização”, o que leva especialistas a ironizarem que “os investidores precisam agora de ter ‘estômagos de aço’”. 

Contudo, Castilho sublinha que este crescimento está apoiado em expectativas não confirmadas de lucros “estimados em um trilião de dólares nos próximos dois anos”. Cita o professor Scott Galloway, que afirma que “sem os investimentos na IA o crescimento do PIB norte-americano este ano seria zero”, e alerta para os riscos de uma dependência excessiva deste sector: “uma queda de 20% nos rendimentos dos grandes investidores em IA deve causar uma redução de até 3% no crescimento do PIB dos EUA”. 

Outros analistas, como Noel Johnson, descrevem a situação como uma “corrida maluca” das grandes empresas tecnológicas, empenhadas em lançar produtos que sustentem a expectativa de lucros trilionários. Contudo, dados do Massachusetts Institute of Technology (MIT) revelam que “95% dos projectos sobre inteligência artificial generativa fracassaram em menos de um ano, desde 2023”, demonstrando as fragilidades do sector. 

Castilho argumenta que esta combinação de investimentos maciços e incertezas crescentes tem vindo a amplificar os temores de um colapso financeiro global, uma vez que a perda de valor das acções ligadas à IA poderia desencadear uma reacção em cadeia nos mercados. 

O autor avança ainda que os Estados Unidos enfrentam uma situação financeira precária, com uma dívida pública que já atinge “36 triliões de dólares, teoricamente impagável, e que se sustenta com base no pressuposto de que a economia do Tio Sam e o dólar aguentam qualquer crise”. Salienta que, para pagar esta dívida, o PIB norte-americano terá que crescer num ritmo superior a 2% anual durante uma década, algo considerado “irreal” pelos economistas. 

Os sinais de instabilidade agravaram-se após a falência de três grupos financeiros norte-americanos — Tricolor, Zions Bancorp e Western Alliance Bancorp — e do conglomerado First Brands, o que provocou “calafrios no sistema bancário global” e um “novo disparo nos preços do ouro, um sintoma claro da incerteza sobre investimentos convencionais e sobre a estabilidade do dólar”. 

Para Castilho, tudo aponta para “uma tempestade financeira a aproximar-se”, mas os grandes meios de comunicação continuam mais empenhados em “influir no jogo dos grandes agentes económicos” do que em informar o público. O jornalista lamenta que “não se note, até agora, nenhum esforço para explicar, em termos simples, a origem da sucessão de notícias desconcertantes na área financeira”, nem para esclarecer “como um eventual crash económico mundial vai afetar os 99% da população mundial que está fora da faixa dos mais ricos”. 

Conclui que, ao não fornecer ferramentas de compreensão aos cidadãos, a imprensa “deixa as pessoas indefesas e sem condições de impedir que acabem a pagar boa parte da conta da crise”. 

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