Follow the Money: um novo modelo de jornalismo
O Follow the Money (FTM), um veículo de investigação jornalística holandês, mostra ser um exemplo de sucesso na criação de um modelo de negócio sustentado por receitas dos leitores. Com quase 50 mil membros pagantes, a organização tem crescido de forma estável, apostando numa estratégia assente na qualidade, independência editorial e compromisso com o serviço público. O próximo passo é replicar este modelo por toda a Europa.
Fundado como uma plataforma para jornalistas freelancers, o FTM enfrentava dificuldades em manter uma linha editorial consistente e elevada. Ao The Fix, Harry Lensink, editor-chefe, contou que a solução passou por internalizar os jornalistas, oferecendo-lhes contratos de trabalho a tempo inteiro.
Esta mudança permitiu melhorar a qualidade e a estabilidade do conteúdo publicado. A redacção, que contava com cerca de nove colaboradores há quatro anos, conta agora com cerca de 50 profissionais, incluindo 25 jornalistas, uma equipa de dados e um escritório europeu em Bruxelas. Ao contrário da equipa de Amesterdão, maioritariamente holandesa, o núcleo de Bruxelas é internacional e comunica sobretudo em inglês.
O sucesso financeiro do FTM assenta numa relação directa com os seus leitores. Entre 80% a 90% do orçamento provém das subscrições dos membros, que pagam pelo acesso ao conteúdo como forma de apoiar um jornalismo independente e responsável. O paywall (acesso pago) foi inicialmente uma barreira, mas foi ajustado: os artigos são gratuitos durante as primeiras 24 horas após o registo, permitindo que novos leitores experimentem o conteúdo antes de se tornarem assinantes.
O restante financiamento, entre 10% a 20%, provém de apoio institucional, canalizado para projectos experimentais (vídeo, áudio, expansão internacional).
Muitos assinantes não lêem diariamente os conteúdos, mas apoiam a missão do FTM por acreditarem na função social do jornalismo de investigação.
A neutralidade ideológica é outro pilar do sucesso: "Somos bastante neutros e temos seguidores da esquerda à direita, e tudo o resto, porque publicamos sem qualquer conotação ideológica", afirma o chefe de redacção.
O impacto do Follow the Money na vida política holandesa tem sido notório. Através de investigações com base em denúncias, pedidos de acesso à informação e análises de dados, as reportagens do FTM têm sido recorrentemente citadas no Parlamento e até levado a consequências imediatas. Por exemplo, a publicação de um artigo sobre má conduta de um dirigente político levou à sua demissão 24 horas após a publicação da investigação.
Expandir o modelo pela Europa
O grande desafio do momento é a expansão europeia do FTM. A equipa acredita que, se conseguir conquistar apenas 0,01% da população europeia (cerca de 45 mil pessoas entre os 450 milhões de habitantes da UE), será possível sustentar financeiramente o modelo fora da Holanda.
Contudo, a internacionalização traz novos obstáculos. A diversidade legal na Europa é uma das maiores dificuldades. Países como o Reino Unido e a Alemanha têm leis de responsabilidade editorial mais rígidas que a Holanda. É também necessário identificar temas com relevância pan-europeia, capazes de interessar públicos de diferentes culturas e línguas. O FTM aposta na criação de redes de colaboração com outras plataformas de investigação para abordar este novo contexto.
Segundo Lensink, a estratégia passa por encontrar "leitores com um foco internacional, com interesses geopolíticos e espírito crítico. Se os encontrarmos, seria um grande avanço para o Follow the Money".
(Créditos da imagem: Follow the Money)