A Google está a ser acusada de causar “graves danos irreparáveis” ao jornalismo no Reino Unido, através da utilização das suas sínteses de inteligência artificial (Google AI Overviews), que exibem respostas geradas por inteligência artificial nos resultados de pesquisa, reduzindo drasticamente o tráfego para os sites de notícias originais. 

Uma queixa formal foi apresentada à Autoridade da Concorrência e dos Mercados (CMA) por uma colaboração de organizações que inclui a Foxglove, a Independent Publishers Alliance e o Movement for an Open Web, com o objectivo de impedir que a Google “roube o trabalho dos jornalistas britânicos” e o utilize “sem compensação justa”. 

Segundo os queixosos, a Google “abusa da sua posição dominante” nos motores de busca, tal como “foi considerado pela Comissão Europeia e pelos tribunais europeus que, ao restringir a visibilidade nos resultados da pesquisa, a Google abusou da sua posição dominante na pesquisa online”.  

A queixa exige medidas urgentes da Autoridade da Concorrência e dos Mercados para impedir que a Google utilize conteúdos jornalísticos nas suas respostas de IA sem o consentimento explícito dos editores. 

A Foxglove denuncia que estas práticas devastam a capacidade dos meios de comunicação independentes de chegar ao seu público: “A indústria noticiosa independente já está a lutar, mas isto arrisca-se a afundá-la completamente”, conta Rosa Curling, directora da Foxglove. 

Para James Rosewell, do Movement for an Open Web, “as sínteses de IA roubam os editores em duas frentes. Roubam o conteúdo dos editores para alimentar o seu modelo de IA e depois utilizam esta capacidade para roubar tráfego, colocando a síntese à frente das ligações para o conteúdo original. Este é um exemplo claro de um monopolista comprovado que abusa do seu poder para explorar os proprietários de conteúdos e discriminar os seus concorrentes e que tem de ser travado imediatamente”. 

Entre as soluções propostas pela queixa estão um mecanismo de exclusão do uso de conteúdos por IA, sem prejudicar a visibilidade nos resultados de pesquisa, assim como uma compensação justa para os editores cujos conteúdos são usados. A queixa acrescenta que podem ser impostas restrições legais à recolha, indexação e utilização de dados jornalísticos pela IA da Google e regras de conduta para evitar o abuso de poder por parte da gigante tecnológica. 

A CMA respondeu, afirmando que está a considerar designar a Google como empresa de “estatuto de mercado estratégico” ao abrigo da nova Digital Markets, Competition and Consumers Act (DMCCA), o que permitirá impor-lhe regras mais exigentes. 

Por seu lado, a Google defendeu-se, afirmando que “envia milhares de milhões de cliques por dia para websites”, e que os editores têm “controlo” sobre os conteúdos que aparecem nas visões gerais de IA. No entanto, admite que recusar participar nas sínteses pode implicar perdas de visibilidade.

(Créditos da imagem: Unsplash)