ChatEurope: um chatbot dedicado às notícias europeias

Um novo projecto europeu de comunicação foi recentemente lançado com o objectivo de aproximar os cidadãos dos temas relacionados com a União Europeia (UE). O ChatEurope consiste num chatbot baseado em inteligência artificial, desenvolvido por um consórcio de cerca de 40 meios de comunicação de vários países da UE.
A ideia partiu da necessidade de tornar os assuntos europeus, muitas vezes vistos como complexos e distantes, mais acessíveis, compreensíveis e relevantes para o cidadão comum. Para isso, os criadores decidiram reunir conteúdos jornalísticos fidedignos de várias fontes, proporcionando resumos rápidos e contextualizados a partir de um único ponto de acesso: uma ferramenta conversacional suportada por IA.
O projecto é liderado pela Agência France-Presse (AFP), contando ainda com parceiros como a Deutsche Welle, a France Médias Monde, a rádio romena RFI Romania, as agências noticiosas DPA (Alemanha) e ANSA (Itália), o grupo polaco Agora, a plataforma espanhola de verificação de factos Maldita, o diário El País, entre outros.
Embora o ChatEurope seja co-financiado pela Comissão Europeia, a sua equipa sublinha que o financiamento não interfere, em nenhum momento, na independência editorial do projecto, que poderá veicular tanto conteúdos favoráveis como críticos em relação à própria UE.
Em entrevista ao The Fix, Mirko Lorenz, gestor de inovação da Deutsche Welle e um dos responsáveis pela iniciativa, contou que a motivação central foi dar resposta ao apelo da União Europeia para fomentar uma melhor compreensão das suas políticas e decisões junto do público. “Actualmente, este é um tema bastante abrangente, pois afecta todos os tipos de assuntos, desde políticas que não lhe interessam até novas regulamentações específicas que afectam directamente a sua vida na Europa”, disse.
Assim, o consórcio propôs-se a criar uma vasta base de dados de notícias fiáveis, produzidas por jornalistas profissionais e com fontes credíveis, acessível de forma interactiva através de um chatbot disponível em vários idiomas. “Permite que os utilizadores façam perguntas e recebam respostas personalizadas no seu idioma preferido, com total transparência em relação às fontes e links para o conteúdo original. É muito importante notar que, neste momento, trata-se de uma experiência inicial, o que significa que a base de dados é limitada. Precisamos de algum tempo para a construir”, elabora Mirko Lorenz.
O projecto prevê a produção de cerca de 2700 conteúdos digitais, dos quais mais de mil serão originais, e os restantes seleccionados entre os meios parceiros. Estes conteúdos estarão disponíveis inicialmente em sete línguas europeias, com ferramentas avançadas de tradução, transcrição e legendagem, permitindo o seu acesso por parte de falantes de todas as línguas oficiais da UE. Para tal, o consórcio começou por utilizar o tradutor automático DeepL, mas está agora a implementar uma solução própria, o plain X, desenvolvida em parceria com uma entidade portuguesa ligada à Deutsche Welle. Esta nova ferramenta permite tanto a tradução totalmente automática como a intervenção de editores humanos, garantindo maior qualidade editorial.
Além de melhorar o acesso à informação europeia, o ChatEurope desempenha também um papel fundamental no combate à desinformação. Mirko Lorenz explica que, ao oferecer respostas fundamentadas exclusivamente em fontes verificadas e ao restringir o campo de acção da inteligência artificial, pretende-se evitar o risco de manipulação ou erro, cada vez mais comum na proliferação de conteúdos online, sobretudo nas redes sociais. O sistema criado impede que a IA invente ou alucine factos, assegurando que todas as respostas se baseiem apenas nos conteúdos efectivamente publicados pelos parceiros do projecto.
Apesar de o financiamento inicial ser proveniente da Comissão Europeia, a equipa responsável garante que a independência jornalística continua a ser um princípio inegociável, e os conteúdos poderão ser críticos da UE sempre que se justificar.
Além do chatbot, está prevista também a produção de formatos adaptados aos hábitos de consumo actuais, como vídeos curtos para redes sociais, com o objectivo de atrair um público mais jovem. “O projecto está previsto para durar 24 meses. Acho que este tipo de projectos pode ser prolongado se for bem-sucedido. Mas isso ainda não foi decidido neste momento”, revela Mirko Lorenz.
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