IA testada para potenciar o jornalismo local nos EUA

Com apenas alguns jornalistas para cobrir as 169 cidades do estado de Connecticut, o Connecticut Mirror está a explorar como a inteligência artificial (IA) pode ser usada não para substituir, mas para potenciar o jornalismo local.
“Um dos seus objectivos é gerar pistas e obter material das reuniões municipais para os repórteres, usando ferramentas de IA”, afirma um texto do Poynter Institute sobre o trabalho de Angela Eichhorst, a nova repórter de dados de inteligência artificial e promotora de produtos do Connecticut Mirror.
A iniciativa surge num momento em que redacções pequenas e organizações sem fins lucrativos enfrentam limitações orçamentais. A IA é vista como uma ferramenta para tratar tarefas rotineiras, como transcrição de reuniões e análise de legislação, permitindo que os jornalistas se concentrem em reportagens de fundo.
Antes da contratação de Eichhorst, o editor-chefe Stephen Busemeyer já tinha desenvolvido quatro ferramentas de IA para uso interno: um modelo treinado para responder a perguntas sobre legislação estadual, outro baseado no Blue Book, almanaque oficial do governo estadual, um modelo com dados de votação dos deputados estaduais em 2023 e uma ferramenta para analisar relatórios do Gabinete de Investigação Legislativa.
“O Mirror faz muitas reportagens aprofundadas sobre questões que outras pessoas apenas cobrem superficialmente”, disse Busemeyer, explicando a utilidade das ferramentas no apoio a investigações e análises de dados.
Inspirado pelo Washington Post, que criou o chatbot "Ask The Post AI", Busemeyer considera desenvolver algo semelhante para Connecticut. “E se pudéssemos perguntar à IA: ‘Como é que o presidente da Câmara dos Representantes obtém poder? Que outras histórias posso ler para aprender sobre isso?’”, questiona Busemeyer. Contudo, ele reconhece que ainda não tem certezas sobre a viabilidade financeira e técnica de um chatbot local.
Apesar das tentações de cortar custos com IA, o Mirror mantém uma postura cautelosa: “Se for apenas algo brilhante e que coloque os leitores em risco de obterem informações erradas, não, não o faremos”, assegura Busemeyer, que compara a IA a um “estagiário muito hiperactivo”. “Vai haver erros. Vamos verificar tudo duas vezes. Seremos transparentes”, reitera o responsável.
A longo prazo, Eichhorst e Busemeyer trabalham numa ferramenta de captura e transcrição de vídeos em larga escala, que permitirá extrair e resumir conteúdos de reuniões e sites públicos, algo essencial para ampliar a cobertura local automatizada. “Queríamos apenas fazer um jornalismo melhor”, conclui Busemeyer. “Se uma ferramenta de IA puder ajudar os leitores a compreender melhor temas importantes, o Mirror irá explorá-la.”
(Créditos da imagem: fotografia retirada do site do Poynter Institute)