Distribuidora VASP admite interior do país sem acesso a jornais

Os sete principais grupos de media em Portugal, juntamente com a VASP, alertaram o Governo para a crise grave na distribuição de publicações impressas, sobretudo no interior do país. As entidades assinaram uma carta conjunta dirigida ao ministro da Presidência, António Leitão Amaro, pedindo uma audiência com carácter de urgência para discutir a situação e exigir medidas.
A iniciativa surge no seguimento do anunciado concurso público para distribuição de imprensa, que se encontra adiado há pelo menos sete meses, de acordo com o jornal Público.
“O aumento contínuo dos custos operacionais, a crise financeira que atinge um dos principais editores nacionais e a continuada quebra das vendas de imprensa, colocam a VASP numa situação de grande fragilidade”, lê-se na carta subscrita por nomes como Francisco Pinto Balsemão (Impresa), Cristina Soares (PÚBLICO), Luís Santana (Media Livre), Luís Trindade (Global Media Group), Ricardo Peres (A Bola), Eduardo Gradiz (Presspeople), Domingos Andrade (Notícias Ilimitadas) e Marco Galinha (VASP).
Os signatários alertam para o facto de esta crise ameaçar directamente centenas de pontos de venda, comprometendo valores como a literacia mediática, a coesão social e territorial e o próprio direito constitucional de ser informado. A carta denuncia que a ausência de soluções coloca em risco “a continuidade da distribuição de imprensa em todo o território nacional”.
O antigo ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, já havia referido que, em vários concelhos como Vimioso, Freixo de Espada à Cinta, Marvão e Alcoutim, já não era possível comprar jornais ou revistas. Uma “solução transitória” chegou a ser aplicada em Novembro de 2024, permitindo o regresso parcial das publicações em algumas dessas localidades.
A questão voltou a ganhar força no 1.º Encontro Nacional de Pontos de Venda de Imprensa, realizado a 21 de Setembro e organizado pela VASP. Na ocasião, o presidente da empresa, Marco Galinha, foi especialmente crítico quanto à lentidão do Governo na concretização de soluções prometidas.
“A VASP anda há um ano a tentar ter um projecto de ajuda aos editores para chegarem ao interior do país. Mas andamos há um ano em reuniões, reuniões atrás de reuniões e cada vez parece mais longe”, criticou Marco Galinha, citado pelo Diário de Notícias.
Apesar de reconhecer o mérito do Governo da Aliança Democrática (AD) por ter colocado o tema dos media na agenda política, o responsável sublinhou que a execução prática das medidas tarda em concretizar-se.
Marco Galinha revelou que a VASP perde 500 mil euros por cada milhão facturado no interior do país e que, do ponto de vista financeiro, a empresa já teria encerrado a distribuição nessas regiões. No entanto, afirmou que não o faz porque “se importa com as pessoas”.
“Em vez de fecharmos rotas, mantivemo-las abertas à espera deste dia”, referiu Galinha, fazendo alusão a 15 de Setembro, data esperada para a abertura do novo concurso público, que acabou por não se concretizar. Perante este impasse, o dirigente admite um possível corte de mil ou dois mil pontos de venda.
O Plano de Acção para a Comunicação Social, apresentado em Outubro de 2024, tinha como um dos seus principais objectivos garantir a distribuição de publicações impressas em todos os concelhos do país, com apoio especial às zonas de baixa densidade populacional.
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