Fenómeno de “fuga às notícias” nas gerações jovens portuguesas
O estudo “Meaningful Media”, conduzido pela Havas Media Network, destaca a crescente relevância das redes sociais como meio informativo em Portugal, bem como a intensificação do fenómeno da “fuga às notícias”, sobretudo num contexto de saturação informativa e crise permanente.
O consumo de notícias através das redes sociais regista uma tendência crescente e transversal a todas as faixas etárias em Portugal. No entanto, apenas os mais jovens (especialmente entre os 15 e os 34 anos) incluem estas plataformas no top 5 dos meios considerados mais credíveis.
Este crescimento é atribuído, em parte, ao impacto dos vídeos virais, que passaram a desempenhar um papel semelhante ao do prime time televisivo, funcionando não apenas como entretenimento, mas também como fonte de informação para os mais jovens.
O estudo identifica diferentes motivações e comportamentos mediáticos consoante a geração. As gerações mais velhas (45 a 64 anos) atribuem grande valor à função informativa dos meios, mas também procuram entretenimento, equilibrando a sua relação com os media. A Geração Z (jovens dos 15 aos 24 anos) privilegia a descoberta de novidades, que encontra sobretudo através de motores de busca e redes sociais. Esta geração destaca-se também por uma mudança significativa nos hábitos de consumo, afastando-se da rádio e integrando as redes sociais nas fontes consideradas credíveis.
Fugir às notícias
O fenómeno de fuga às notícias tem vindo a acentuar-se, especialmente em resposta à negatividade dominante no discurso jornalístico e à sensação de crise constante. Este cansaço informativo motiva muitos cidadãos a afastarem-se dos conteúdos noticiosos.
“Se associarmos este movimento à crescente substituição do jornalismo profissional por criadores de conteúdos digitais, ou ‘jornalistas-influencers’, impulsionada por algoritmos, enfrentamos riscos acrescidos de escassez de confiança, potenciados pela desinformação e polarização de opiniões”, refere a Havas Media Network, em comunicado.
Esta tendência de afastamento em relação às notícias repercute-se também no sector publicitário. Globalmente, entre 2019 e 2024, a publicidade associada a conteúdos jornalísticos caiu 33%. Em Portugal, a quebra foi ligeiramente inferior, mas ainda significativa: 27%.
O estudo revela também grandes disparidades geracionais na forma como a publicidade é percepcionada. Os mais jovens mostram maior intolerância à publicidade intrusiva e são os que mais recorrem a bloqueadores de anúncios (adblockers): 54% dos indivíduos entre os 15 e os 34 anos utilizam estas ferramentas, comparando com apenas 21% da geração X. Ainda assim, esta mesma faixa etária reconhece que uma boa qualidade criativa e uma segmentação adequada podem melhorar significativamente a sua experiência com anúncios. Entre os mais velhos, verifica-se uma maior aceitação da publicidade, associada a uma questão cultural e de hábito.
Para esta quarta edição do estudo “Meaningful Media” foram realizadas 600 entrevistas a residentes em Portugal continental, com idades entre os 15 e os 64 anos, em Novembro de 2024.
(Créditos da imagem: Unsplash)