Um artigo do Le Monde analisa o crescimento da plataforma Substack enquanto alternativa à imprensa tradicional, sobretudo entre jornalistas que procuram uma maior liberdade editorial. O texto deixa um alerta para os riscos associados à falta de regulação e moderação de conteúdos. 

Fundada em 2017, a Substack é uma plataforma americana que permite a publicação de newsletters, textos, vídeos e podcasts, gratuitos ou pagos, directamente para os subscritores. Vários jornalistas têm sido atraídos pela promessa de autonomia editorial, como Joy Reid, Mehdi Hasan e Jim Acosta, que abandonaram grandes canais televisivos para escrever na Substack. Alguns, inclusivamente, fundaram os seus próprios veículos de comunicação na plataforma. O The Bulwark é exemplo disso, que contava com 845 mil subscritores em Julho, dos quais 100 mil pagavam pelos conteúdos. 

Na plataforma, a escrita pode ser monetizada: “a taxa de inscrição custa entre 5 e 15 dólares por mês (entre 4 e 13 euros). Depois das comissões da Substack (10%) e do fornecedor de pagamentos Stripe (2,9%), uma subscrição de 9€ rende ao jornalista cerca de 7€”, explica o Le Monde. Em Março, a plataforma registava 5 milhões de subscrições pagas e 50 mil criadores remunerados, sendo que cerca de 50 deles ganhavam mais de um milhão de dólares por ano. 

A jornalista Saveria Mendella, por exemplo, destaca a possibilidade de escrever "sem restrições" e de publicar textos longos e analíticos que não teriam espaço nos media convencionais. Outros, como Camille Bour-Roussi ou Prodige Mabanza, usam a plataforma para divulgar conteúdos rejeitados por outros meios ou para manter a prática da escrita enquanto constroem visibilidade profissional. 

Contudo, a jornalista Mendella reconhece o desconforto ético de cobrar valores próximos aos de uma revista, sem equipa editorial. Para François Bonnet, presidente do Fundo para a Imprensa Livre, “o colectivo é o que torna um jornalista valioso”, considerando perigoso depender financeiramente de uma plataforma que pode, a qualquer momento, alterar, suspender ou apagar contas. 

Outro ponto de preocupação é a fraca moderação da Substack. O seu CEO, Chris Best, aplica uma lógica de quase total liberdade de expressão, recusando intervir mesmo diante de conteúdos extremistas. A plataforma foi alvo de críticas quando promoveu um boletim com uma suástica como imagem de perfil, e em 2023 não agiu perante uma carta aberta assinada por 200 criadores que denunciavam a presença de supremacistas brancos. Apesar das polémicas, a Substack continua a crescer: em Julho, conseguiu arrecadar 100 milhões de dólares. 

(Créditos da imagem: Substack)