Jornalistas do Le Parisien mobilizam-se contra venda do diário

A redacção do diário francês Le Parisien mostra preocupação perante a possibilidade de o jornal ser vendido ao grupo Bolloré, conhecido pela sua influência ideológica nos media. Reunidos em assembleia geral no dia 11 de Setembro, os jornalistas apelaram ao actual proprietário, Bernard Arnault, que não avance com qualquer negociação nesse sentido.
“Sabemos o que acontece quando ele [Vincent Bolloré] assume um meio de comunicação”, declarou um jornalista ao Le Monde, relembrando os casos do i-Télé (hoje CNews), Europe 1 e Journal du Dimanche, onde mudanças editoriais se seguiram à aquisição por Bolloré.
A falta de comunicação da administração parece ter agravado o ambiente. “Não sabemos de nada”, lamentou Catherine Gasté, representante sindical da SNJ-CGT, sublinhando o silêncio de Arnault face à carta enviada pela Sociedade de Jornalistas (SDJ) a 9 de Setembro.
“Gostava que todos estivéssemos cientes do rolo compressor que está a passar por cima de nós”, alertou outro jornalista, enquanto se discutia a crescente concentração dos media em França e o risco que isso representa para o pluralismo informativo.
Durante mais de duas horas e meia, a assembleia aprovou uma moção por unanimidade (com 4 abstenções em 474 participantes), onde se exige uma reunião imediata com Pierre Louette (presidente do grupo Les Echos–Le Parisien) e Anne-Violette Revel de Lambert (consultora e directora-geral "em missão"). A moção expressa claramente a oposição à venda ao grupo Bolloré e defende a liberdade de imprensa e a independência editorial.
“Está em causa o destino do direito de informar e ser informado”, sublinhou Gwenael Bourdon, do sindicato SGJ-FO.
Reorganização interna da redacção
A redacção enfrenta também uma reorganização editorial interna, marcada para entrar em vigor a 15 de Setembro, que já motivou três moções de censura e uma greve de um dia na Primavera. O plano prevê a eliminação de 39 postos de trabalho, incluindo 29 jornalistas, embora 46 tenham manifestado vontade de sair.
“Hoje, temos um grupo que não está a honrar a sua assinatura”, acusou Aymeric Renou, representante da SNJ, referindo-se à promessa da administração de compensar as saídas com novas contratações, o que ainda não aconteceu.
A directora de Recursos Humanos, Blandine Langlois, justificou os atrasos com alterações no contexto económico, afirmando que “o grupo LVMH pediu a todas as suas marcas que se esforçassem”.
Outra fonte de tensão é a nomeação de um jornalista do departamento de Desporto para chefiar a nova divisão “Vida Privada”. Segundo testemunhos recolhidos pelo Le Monde, esse mesmo jornalista enviou mensagens de teor impróprio a várias colegas nos últimos anos. Uma investigação interna, descrita como “uma estreia no Le Parisien”, foi concluída em Julho, mas os resultados ainda não foram divulgados.
Embora tenha sido garantida confidencialidade às vítimas, “estas mulheres não disseram que não tinha acontecido nada, mas que não queriam falar sobre o assunto, o que é muito diferente”, afirmou um membro da redacção. Há mesmo quem aponte pelo menos um caso susceptível de ser classificado como assédio sexual.
“Nunca presenciei qualquer comportamento deste tipo da parte dele no Le Parisien”, declarou um repórter, mas admitiu que “é verdade que diz mal das mulheres e que tem uma gestão tóxica”.
O jornalista visado não respondeu aos pedidos de esclarecimento do Le Monde, a direcção do jornal não quis tecer comentários e o grupo LVMH mantêm-se em silêncio.
(Créditos da imagem: Le Parisien)