A discussão sobre a ética jornalística e a prática seguida nas redacções entre profissionais

Apesar de a confiança no jornalismo continuar a diminuir, o discurso ético da profissão mantém-se presente nos "slogans dos meios de comunicação; nos princípios editoriais e manuais de redacção; nas falas de profissionais experientes ou iniciantes; no ‘bê-á-bá’ de qualquer estudante de jornalismo; em livros e pesquisas académicas". A ética continua a ser vista como “fiadora de credibilidade” e constitui um “imperativo, uma obrigação prevista no código da profissão”. Quem o diz é a jornalista Raphaelle Batista, num artigo para o Observatório de Imprensa, com o qual o CPI mantém uma parceria.
Numa época marcada pela desinformação, polarização ideológica, precariedade laboral e pela chegada de novas tecnologias como a Inteligência Artificial, falar de ética torna-se "tão necessário quanto desafiador". A autora lança uma questão: "Como tornar atractiva e, ao mesmo tempo, interessante, qualificada e actual essa discussão não somente para quem está na universidade?"
As universidades desempenham um papel central neste debate, introduzindo a ética jornalística já nos primeiros anos da formação. Como recorda a autora, “nas universidades brasileiras, no mínimo um semestre inteiro é dedicado a apresentar e discutir valores, princípios, normas, leis, manuais, instâncias autorregulatórias e outros elementos que constituem a ética e a deontologia da profissão”. Esta base analítica, segundo Batista, deve ser reforçada ao longo da carreira e não anulada “pela rotina muitas vezes massacrante do dia a dia das redacções”, o que leva ao chamado “sofrimento ético”.
Raphaelle considera que os observatórios de imprensa também desempenham um papel importante na promoção da ética jornalística. Estes espaços avaliam o conteúdo produzido e alertam tanto jornalistas como o público para práticas que carecem de responsabilidade ética.
No Brasil, o Observatório da Imprensa, fundado por Alberto Dines em 1996, é um dos exemplos mais notórios. Muitos observatórios, como o objETHOS, mantêm-se activos com apoio universitário e “realizam uma série de análises como este simples comentário a teses, dissertações, relatórios, entrevistas, sites, guias, acções de educação mediática”, sempre com foco na ética profissional.
No ambiente digital, novos formatos procuram levar este debate a outros públicos. Um exemplo é o podcast Vida de Jornalista, que em 2025 lançou a série Escolhas, abordando dilemas éticos com uma abordagem interactiva: “ao fim de cada episódio, um caminho deve ser escolhido pelo ouvinte, que é acompanhado de comentários de alguns grandes nomes da profissão”. Com base em casos hipotéticos inspirados em situações reais, a série procura aproximar o ouvinte dos bastidores da profissão e estimular a reflexão ética com uma linguagem acessível, mas rica em referências. Para Batista, Escolhas “ilumina um caminho que ainda tem muito a ser desbravado nesse desafio de tornar mais abrangente e interessante a discussão sobre a tão cobrada ética jornalística”.
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