Infelizmente, para todos nós que convivemos de perto com a Helena, a vida atraiçoou-a quando tinha imenso para nos dar.

Mas a sua marca ficou – primeiro  na memória que temos dela, depois na obra que nos deixou.

O Centro Nacional de Cultura ficou a dever-lhe o ter sido recuperado das sombras e da decadência,  impondo-se  na paisagem cultural portuguesa com uma nova luz, que permanece até hoje, herança assumida por  Guilherme  D `Oliveira Martins - que lhe sucedeu  com o mesmo denodo e engenho -, e agora por Maria Calado, a quem  entregou recentemente o testemunho.

O Prémio, instituído em 2013,  pelo Centro Nacional de Cultura em cooperação com a Europa Nostra,  ao qual o Clube Português de Imprensa se associou com orgulho, e que  hoje voltamos a entregar, é a melhor homenagem prestada  à Helena, por tudo o que nos transmitiu.

Desde o cuidado com que acompanhava as pequenas coisas, que a deixavam feliz, até aos grandes desafios que a motivavam, a Helena habituou-nos a desdobrar-se, com o mesmo empenho, desde o jornalismo -  escrito com alma -, às viagens culturais em demanda dos vestígios da presença portuguesa no mundo, ou, ainda, ao observatório privilegiado de Bruxelas e de Estrasburgo, enquanto activa eurodeputada.

Por isso, este Prémio, com o seu nome, distingue e consagra as contribuições excepcionais para a protecção e divulgação do património cultural e dos ideais europeus.

A Helena, que nos deixou prematuramente em 2002 - e que lutou até ao fim como se ignorasse  o poente, que se adivinhava rápido e inexorável -, gostaria de saber que passaram já por aqui, distinguidos  com o Prémio que leva o seu nome, personalidades com a grandeza de  Claudio Magris,  Orhan Pamuk, ou Jordi Savall, aos quais se juntam, este ano, o grande pensador e ensaísta, Eduardo Lourenço, e o famoso cartoonista Plantu,  há mais de 40 anos a semear talento nas páginas do  Le Monde. Foram  escolhas inadiáveis do Júri.

Costumava dizer-se que Helena Vaz da Silva era uma mulher que pensava e fazia. Fiel a valores dos quais nunca se desviou. Formada  em princípios de que nunca abdicou.

Sabe bem evocar o seu exemplo, num tempo incerto e caótico, onde a desordem das redes sociais se institui como novo paradigma, muitas vezes à revelia do humanismo que nos moldou e nos deu razão de ser.

A Helena apostava em valores e no futuro. Este  Prémio também.

 

(Intervenção de Dinis de Abreu, em representação do Clube Português de Imprensa, na cerimónia de entrega do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural,  atribuído este ano a  Eduardo Lourenço e a ao cartoonista Plantu)