Passou relativamente despercebida uma efeméride fundamental: a celebração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, proclamado pela Assembleia Geral da ONU em Dezembro de 1993, seguindo uma recomendação da Conferência Geral da UNESCO.

Por cá o tema teve um tratamento residual, que quase se circunscreveu à Associação Portuguesa de Imprensa, que assinalou a data e adoptou o mote “nós acreditamos no jornalismo”,  renovando “o seu compromisso com o dever de praticar o jornalismo com responsabilidade, excelência, honestidade e transparência”.

A nível oficial, a data não obteve grandes rasgos, limitando-se a um comunicado da secretaria-geral da Presidência de Conselho de Ministros, no qual se homenageia "um dos pilares fundamentais da democracia”, enquanto se conclui que “há muito que o jornalismo não era tão ameaçado. As guerras e os conflitos geopolíticos, a par da censura e da intimidação, colocam cada vez mais em causa a liberdade de imprensa e dos meios de comunicação social, com o agravamento das ameaças à segurança pessoal, e mesmo à vida, dos jornalistas, com algumas regiões do globo a fazerem das detenções e dos homicídios destes profissionais instrumentos próprios da conservação dos poderes tirânicos”.

É uma realidade inquestionável e só nos podemos congratular pelo facto de Portugal aparecer bem posicionado no ranking mundial, elaborado pela organização dos Repórteres Sem Fronteiras, onde ocupa o 7.º lugar no top ten, encimado pela Noruega, e à frente de países como a Irlanda, a Suíça ou a Alemanha.

Sem dúvida que este lugar destacado é honroso, em particular por coincidir com o ano em que se comemora o meio século do 25 de Abril, quando foram restituídas as liberdades aos portugueses, com relevo para a de Imprensa, até então condicionada pela Censura do regime deposto.

A defesa da liberdade de Imprensa tem sido, aliás, a principal bandeira erguida pelo Clube Português de Imprensa (CPI), desde a sua fundação em 1980.

Instituímos, por isso, Prémios de Jornalismo, que foram pioneiros em várias modalidades, e representaram um importante incentivo para a profissão. Associámo-nos com o Centro Nacional de Cultura e a Europa Nostra na atribuição anual do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva. Mantemos parcerias com associações congéneres, como o Observatório da Imprensa, do Brasil, ou a Asociación de la Prensa de Madrid, e lançámos em novembro de 2015 este site, que tem contribuído para a reflexão e o debate sobre os media, o jornalismo e os jornalistas.

É pouco, é muito? É, sobretudo, uma responsabilidade que assumimos e que prosseguimos, num tempo estranho onde alguns valores parecem “virados do avesso”…

A liberdade de Imprensa é um bem que nunca está suficientemente adquirido e consolidado, como se percebe pelos atentados que tem vindo a sofrer.

Por isso, e como já escrevemos, o  CPI continuará, enquanto puder, onde sempre esteve. Ao serviço do jornalismo isento e dos jornalistas que fazem do jornalismo uma profissão de fé.

A Direcção