O Clube Português de Imprensa (CPI), fundado em 1980, ainda com o Movimento do 25 de Abril muito recente, foi uma aposta de gente empenhada na liberdade de Imprensa, oriunda de vários credos e políticas, mas com a forte convicção de defender um jornalismo sério, rigoroso e independente, e um associativismo forte num sector, onde este era incipiente à época.

Assinaram a acta fundacional do CPI nomes tão prestigiados como os de Norberto Lopes, Raul Rego e Francisco Sousa Tavares, ou os de Mário Mesquita, António Freitas Cruz, Helena Marques e Vítor Direito, para referir apenas alguns daqueles que acompanharam e ampararam o nascimento do Clube, mas que já partiram.

Tivemos, também, connosco, nesse período, ainda incerto da Democracia portuguesa, Francisco Balsemão e Marcelo Rebelo de Sousa, a quem coube a autoria do esboço original dos Estatutos do Clube.

Manter vivo e actuante o CPI ao longo de quase meio século não foi tarefa fácil e implicou muita persistência perante não poucas adversidades, num país onde o associativismo é fraco — se exceptuarmos o desportivo e o regionalista —, e o mecenato curto.

Ao celebrar o cinquentenário do 25 de Abril — a justa homenagem a todos, militares e civis, que contribuíram para termos hoje uma Democracia mais madura e consolidada —, convirá não esquecer que houve e há adversários da liberdade, e que têm vindo a adensar-se as sombras e as incertezas quanto ao futuro dos media e do jornalismo.

A Imprensa perdeu terreno, em parte por culpa própria e por incultura editorial de vários dos seus actuais responsáveis, cada vez mais acantonada numa realidade de nicho. A rádio, quer a local, quer a de âmbito nacional, depende muito do consumo em auto-rádio, coincidindo as suas melhores audiências com as chamadas “horas de ponta” do trânsito urbano. E a televisão, embora omnipresente, sofre a concorrência crescente do “streaming”, da Internet e das redes sociais, a fonte de informação procurada por camadas populacionais mais numerosas, sobretudo jovens.

E sem uma rede de media capaz, plural e financeiramente autónoma, é a própria Democracia que fica em risco.

Os media, impressos ou audiovisuais, não podem ser instrumentalizados ao serviço de interesses políticos ou outros. Nem os jornalistas.

Celebremos, pois, o 25 de Abril conscientes dos perigos que nos rodeiam, desde os vanguardismos iluminados à decadência de valores.

O jornalismo, como a Justiça, não pode politizar-se. Nem ceder a modas de ocasião ou a saudosismos, à direita ou à esquerda, que têm o seu lugar próprio no passado. E na História.

O CPI continuará, enquanto puder, onde sempre esteve. Ao serviço do jornalismo isento e dos jornalistas que fazem do jornalismo uma profissão de fé.

A Direcção