Os ganhos políticos da “Google” e da “Meta” ao apoiarem os “media”
Um estudo, realizado por Charis Papaevangelou, investigador no Instituto de Direito da Informação da Universidade de Amsterdão, concluiu que a Google e a Meta fizeram 6.773 doações (monetárias e outras) a meios de comunicação social, entre 2017 e 2022. O “objetivo principal dos gigantes da tecnologia tem sido colher ganhos políticos e de reputação”, diz o investigador.
O estudo concentrou-se nos pagamentos, doacções e outras formas de apoio oferecidas aos editores, através da Google News Initiative, incluindo o Journalism Emergency Relief Fund, lançado nos primeiros meses da pandemia de Covid-19, e o Facebook Journalism Project. O relatório refere que os pagamentos da Google e da Meta, dona do Facebook, Instagram e Whatsapp, “devem ser vistos como uma subtil diversificação e expansão das suas actividades de lobby”.
A investigação encontrou 5.510 destinatários do financiamento da Google News Initiative, 942 beneficiários do Facebook Journalism Project e 321 editores que receberam dinheiro dos dois projectos.
Papaevangelou disse à Press Gazette que acredita que o financiamento filantrópico, muitas vezes distribuído por meio de “intermediários de financiamento”, como instituições académicas e entidades comerciais, está projectado para “criar ou reforçar o sentimento de dependência que a indústria tem” relativamente a essas plataformas, levando a que seja mais difícil para as organizações noticiosas “posicionarem-se colectivamente contra elas”.
A estratégia, segundo Papaevangelou, é que os media fiquem dependentes das ferramentas das plataformas e do financiamento, para além de não permitir que falem entre eles acerca desses apoios. Esta situação, faz com que seja mais difícil às empresas de notícias criarem uma união, fazerem pressão sobre mudanças legislativas e negociarem com as plataformas.
“Ao receberem doações das plataformas”, os media “estão a abrir-se a uma maior dependência e, como tal, correm o risco de serem capturadas pelos interesses, caprichos e administração dessas plataformas”.
A investigação foi conduzida em colaboração com o Centro de Media, Tecnologia e Democracia, da Universidade McGill, e o seu estudo sugere que "pode haver uma correlação" entre a "intensidade" dos pagamentos por país e a "vontade política" nesses países de regulamentar estas grandes empresas tecnológicas.
O maior número de beneficiários destas doações da Google e da Meta, foi encontrado nos Estados Unidos (2.203), seguido do Brasil (424) e do Canadá (339).
“E em países onde há regulamentação pública a ser proposta, desenvolvida ou aplicada, isto pode ser visto como uma forma de tentar salvar a sua reputação”, e combater “a pressão pública sobre as autoridades públicas e os governos para regular as plataformas”.
Papaevangelou sugere que o caso do Brasil pode estar ligado ao “projecto de lei das notícias falsas”, que ameaça a Google e a Meta de terem que pagar pela utilização das notícias aos media, caso seja implementado no país.
No entanto, o investigador diz que a sua análise ficou prejudicada pela “ofuscação” das empresas de tecnologia, que se recusaram a divulgar dados e informações mais precisas sobre os pagamentos ou doações que têm realizado.
Papaevangelou esteve, cerca de um ano, a trabalhar neste projecto, sobre o qual diz ter sido um grande desafio, porque as empresas de tecnologia não publicaram os dados em formato acessível. Grande parte do seu trabalho, portanto, foi procurar comunicados à imprensa e relatórios qualitativos que mencionavam os destinatários das doações, e houve “muito poucos casos” em que Google ou Meta revelaram o valor dos pagamentos.
Sobre esta falta de transparência, Papaevangelou afirma: “acho que parte do seu modelo de negócios é dividir para conquistar. Se tivéssemos acesso a esses dados, a indústria poderia identificar quem está a receber o quê, e isso poderia criar mais tensões no relacionamento entre as plataformas e os maiores players da indústria de notícias.”