O que esperam os editores da nova rede social “Threads” para 2024
Os editores estão cautelosos em investir mais recursos no Threads, o concorrente “X” da Meta, com quase seis meses de existência.
De acordo com um artigo da jornalista Sara Guaglione, publicado no Digiday, os editores demonstram relutância em investir mais recursos na plataforma devido à escassez de dados disponíveis para as suas equipas de desenvolvimento social e de audiências. Essa incerteza dificulta a avaliação da viabilidade de um maior investimento na plataforma.
“Isso inclui três organizações de notícias - o Boston Globe, a CNN e o New York Times - onde os executivos disseram que estavam a ver o envolvimento crescer no Threads desde o seu lançamento. Todos os três se recusaram a partilhar dados para provar isso, citando a dificuldade de medir dados agregados na plataforma”, escreve.
Contudo, outros editores de notícias, como a BBC e o Guardian U.S., interromperam as publicações ou estão a avaliar a continuidade de publicações nas suas contas principais na plataforma.
Para a autora, o Threads continua a ser um local de experimentação e os meios de comunicação estão a ver quais as publicações que têm mais impacto junto do seu público – o que é avaliado através dos gostos, respostas às publicações e tráfego de referência, uma vez que não há outras métricas disponíveis no Threads.
Enquanto isto, procuram formas alternativas de se ligarem ao público em plataformas sociais baseadas em texto, especialmente porque o tráfego de referência e o envolvimento dos utilizadores no X continua a cair.
“O Meta distingue o tráfego do Threads das suas outras propriedades, incluindo o Facebook e o Instagram”, afirma Guaglione.
O concorrente X ainda mantém uma significativa vantagem em termos de tráfego “web” global, recebendo cerca de 100 vezes mais visitas do que o Threads. Além disso, possui 11 vezes mais utilizadores activos mensais nas aplicações móveis nos EUA.
De acordo com David Carr, gestor da empresa de análise de dados Similarweb, as estimativas de tráfego de “desktop” de novembro mostram que o X teve 5,9 mil milhões de visitas em todo o mundo, uma queda de 13,8% em relação ao ano anterior e uma diminuição de 4% em relação ao mês anterior, enquanto o Threads teve 49,4 milhões de visitas, mantendo-se estável em relação ao mês anterior. Com base nos dados dos utilizadores do Android, a utilização do X diminuiu 2% de outubro para novembro, enquanto o Threads aumentou 12,8%, afirmou.
A perspectiva de alguns editores, como Matt Karolian, director-geral da Boston.com, destaca uma atracção pelo Threads, considerando-o uma plataforma de qualidade em evolução.
"Há uma atracção pelo Threads – é uma boa plataforma, é um produto bom [e] em evolução. E há um elemento de afastamento do X, em que o tempo que se pode passar nele por dia é limitado, antes de se querer arrancar os cabelos", disse Karolian.
Embora algumas equipas de redes sociais, como as do “The Boston Globe” e “The New York Times”, tenham incorporado a gestão e programação de conteúdo no Threads aos seus fluxos de trabalho diários, os responsáveis por essas equipas mostram hesitação em dedicar mais tempo e energia à plataforma.
"A maioria das coisas em que nos baseamos para avaliar uma plataforma e se vale a pena investir recursos, não sabemos sobre o Threads", disse Jake Grovum, director da plataforma do The New York Times.
"Mas não continuaríamos a estar na plataforma e a mantê-la todos os dias se não fosse algo que pensássemos ser promissor para o futuro, mas que também estivesse actualmente a dar resultados para o público." O New York Times tem 2,3 milhões de seguidores no Threads, em comparação com 55,1 milhões de seguidores no X.
Karolian tem analisado os dados do Threads que o The Boston Globe tem (gostos, comentários e partilhas) cerca de duas vezes por mês, e está "consistentemente a ver um maior envolvimento por post no Threads do que no X". Actualmente, o Boston Globe tem mais de 60 mil seguidores no Threads, em comparação com mais de 794 mil seguidores no X. Um vídeo relacionado com desporto publicado na semana passada, por exemplo, recebeu cerca de 310 gostos, em comparação com um vídeo desportivo semelhante publicado há cerca de dois meses, que recebeu cerca de 140 gostos.
Um porta-voz da CNN afirmou que a organização noticiosa também registou um aumento da audiência e do envolvimento no Threads, mas não partilhou números para apoiar esta afirmação.
O artigo destaca a ausência de publicações recentes de algumas organizações noticiosas no Threads, como BBC e Guardian U.S. Contudo, indica que a BBC, por exemplo, não considera ter abandonado a plataforma, atribuindo sua ausência à revisão contínua das plataformas de redes sociais.
A BBC tem, actualmente, 730 mil seguidores no Threads e 40,4 milhões no X.
"Não diria que abandonámos a plataforma", disse um executivo dos média que pediu o anonimato e que trabalha numa editora que não publica no Threads há semanas. "Para começar, não éramos muito activos e eu estaria disposto a fazer mais experiências no futuro." A decisão de se afastar do Threads por enquanto deve-se à falta de recursos.
Em relação ao papel do Threads, inicialmente concebido para conteúdo mais divertido e de entretenimento em vez de notícias importantes e de política, a cobertura de eventos significativos, como a guerra entre Israel e Hamas e a expulsão e retorno do CEO da OpenAI, Sam Altman, deixaram claro para o Boston Globe e o New York Times que há um lugar para organizações de notícias no Threads.
A conclusão do artigo aponta para a incerteza sobre o papel futuro do Threads nas estratégias de desenvolvimento de audiência dos meios de comunicação em 2024.
O destino da plataforma dependerá, em parte, do ciclo eleitoral do próximo ano, determinando se o Threads se tornará um espaço primário para notícias de última hora e conversas em tempo real. Apesar da Meta planear expandir o Threads na Europa, permanece a incerteza sobre o seu impacto e utilidade para as organizações de notícias.