“As habilidades e conhecimentos necessários na era da IA ​​são radicalmente diferentes. As faculdades e escolas de jornalismo devem rever os seus programas de estudo com muita atenção, já que muitas das suas disciplinas estão desactualizadas.

É verdade que vêm incorporando novos conhecimentos, alguns derivados da revolução digital, que virou de cabeça para baixo o sector dos media.

Os jornais tradicionais vêm tentando actualizar-se há anos, mas em geral têm actuado lentamente e a reboque, com alto grau de isomorfismo, altamente condicionados pela ruína económica desencadeada pela mudança tecnológica.

Com a chegada da IA, é hora de repensar tudo desde as raízes” afirma Miguel Ormaetxea em artigo publicado pela Media-tics.

Ormaetxea, licenciado em Jornalismo, em 1972, destaca que a Internet mudou tudo e que muitos meios de comunicação foram afectados. Reconhece, também, que a Inteligência Artificial já é uma realidade e ameaça vários empregos humanos, incluindo o jornalismo.

O perfil de profissionais que as empresas de media agora precisam, está, segundo o autor, a mudar brutalmente, exigindo especialistas em diferentes tecnologias de ponta, além de pessoas que investiguem, escrevam, façam vídeos, desenhem novos formatos e mostrem e expliquem a realidade em profundidade.

“Especialistas do meio ambiente também serão importantes, dada a relevância das mudanças climáticas e do aquecimento global”, afirma Ormaetxea.

O autor defende que “no meio de uma enxurrada de desinformação e lixo que sai das redes sociais, os media vão precisar urgentemente de especialistas nessas redes, capazes não só de observá-las, mas até de criar os seus próprios suportes”.

Quando se licenciou em Jornalismo, Ormaetxea ficou fascinado ao ver os linotipistas “daquele passado distante a comporem em chumbo”.

“Por muitos anos, as redacções foram dominadas pelo barulho de máquinas de escrever gastas. Os primeiros monitores foram um presente que muitos colegas receberam com alguma apreensão. As grandes redacções dos principais jornais diários eram como um templo caótico de competição e camaradagem. Devo dizer que sinto falta deles”, afirma.

“O advento da Internet mudou tudo. Aqueles jornais e revistas de domingo cheios de anúncios foram para um lugar imprevisto, chamado Google, depois Apple, Amazon, Facebook, etc. Hoje 80% da publicidade digital é feita por plataformas que não produzem nenhum conteúdo. É uma aberração que causou a ruína de muitos meios de comunicação”.

“No ano passado, chegou quase silenciosamente, uma incipiente Inteligência Artificial que poderia escrever, projectar, pesquisar e até fazer arte, ameaçando vários ofícios humanos. O ChatGPT4 acaba de ser lançado e há vários outros em andamento. O omnipresente mecanismo de busca da Google também deve ser reinventado”.

Se há anos atrás o autor, era fascinado por as linotypes e máquinas rotativas, hoje luta com IA com igual espanto, “acho que estamos apenas no início de uma revolução coperniciana”.

“Os avanços tecnológicos são cada vez mais deslumbrantes. A física quântica é difícil de explicar, mas terá implicações muito importantes. Avanços na saúde, telemedicina, novos medicamentos, novas pandemias, etc., exigirão especialistas para que cheguem ao grande público”.

Num mundo em convulsão e complexo, serão segundo o autor ser valorizados os trabalhos de investigação em profundidade, que não seguem “apenas o brilho das notícias enganosas nos noticiários”. O jornalismo de qualidade “será o melhor passaporte para vislumbrar o futuro”, segundo Ormaetxea, que acrescenta a visão de que no futuro os profissionais “serão, de certa forma, eles próprios, os media organizados em cooperativas, que distribuirão os seus conteúdos com o auxílio da blockchain, sendo remunerados, de acordo com o impacto que conseguirem com seus conteúdos”.

Segundo Miguel Ormaetxea, estamos apenas no início destas transformações.