Num texto publicado no site Media-tics, Miguel Ormaetxea aborda o problema da "infotoxicação" na era digital, onde a desinformação e a manipulação de informações são cada vez mais prevalentes. Entre os exemplos, faz referência a um grupo chamado "George Teams", liderado por um ex-agente das forças especiais israelitas, que afirma ter manipulado eleições em todo o mundo através de “hacking” e desinformação automatizada. 

“Durante duas décadas, interferiram secretamente em eleições sem deixar rasto. Estão disponíveis para agências de informação, empresas, campanhas políticas e indivíduos que possam pagar o serviço. Um dos seus produtos é um sofisticado pacote de ‘software’, chamado ‘Advanced Impact Media Solutions ou Aims’. Controla um vasto exército de milhares de perfis falsos no Twitter, LinkedIn, Facebook, Telegram, Gmail, Instagram e YouTube. Alguns avatares têm contas na Amazon com cartões de crédito, carteiras de bitcoin e contas no Airbnb”, escreve Ormaetxea, fazendo referência a um artigo do “Guardian” sobre o tema.

Além disso, destaca como os algoritmos personalizados e os sistemas de recomendação em serviços “online” estão a criar bolhas de filtro, reforçando nossas crenças existentes em vez de fornecer informações objectivas: “Estamos cada vez mais expostos a informações que se alinham com os nossos gostos e pontos de vista, fazendo-nos perder a perspectiva e ficar no nosso lugar confortável de informações tendenciosas”.

“Um livro recente intitulado ‘The Filter Bubble’, de Eli Pariser, explica com todo o tipo de dados como os algoritmos personalizados e os sistemas de recomendação, amplamente utilizados numa multiplicidade de serviços de entretenimento, comércio e informação, têm consequências negativas muito relevantes”, afirma.

Ormaetxea refere-se à Internet como “um conjurador que esconde habilmente de nós a pepita de ouro”, que considera ser o conhecimento e “informação de qualidade”.

Salientando a importância da informação de qualidade, argumenta que essa informação – esse “ouro” – não deve ser gratuita, pois a publicidade pode influenciar a sua qualidade. 

Ormaetxea destaca, por isso, a necessidade de apoio institucional, com governos e instituições a liderarem a construção de um novo ecossistema de informação de qualidade, apontando a União Europeia como uma entidade que deveria investir mais na proteção deste tipo de informação.

“Trata-se de um serviço público tão necessário como as estradas ou o aprovisionamento energético. A União Europeia, por exemplo, gasta um orçamento enorme na proteção das suas empresas e indústrias, mas quase nada na proteção de uma informação de qualidade”, aponta.

“É tempo de deitar mãos à obra. A Europa pode ser um farol para todo o planeta neste aspecto crucial. Um planeta em perigo”, apela Ormaetxea.

No artigo, refere ainda que o aquecimento global é um problema que “não será verdadeiramente resolvido sem uma nova hegemonia da informação de qualidade” e defende que a inteligência artificial pode ser uma ferramenta essencial para distinguir informações de qualidade de notícias falsas. 

Uma empresa espanhola chamada Aygloo, segundo refere, desenvolveu um “software” que rastreia a veracidade das informações de forma automática e rápida.

“Em breve, este tipo de ferramenta estará presente em todas as redacções de uma certa qualidade. Isto é necessário, uma vez que alguns estudos referem que cerca de 70% da informação que circula na Internet está contaminada”, conclui.