“Aqueles que não compreenderem os novos compromissos que o fotojornalismo tem nesse momento de transição e desenvolverem habilidades, para gerir a nova forma de informar por meio de imagens, acabarão nas trevas da informação”, diz Erivam Morais de Oliveira, no seu mais recente artigo de opinião publicado no site do Observatório da Imprensa do Brasil, com o qual o CPI mantém parceria.

“Não há mais espaço para profissionais que ficam a choramingar os avanços da fotografia digital e as suas transformações no mercado editorial e tecnológico”, considera Erivam de Oliveira, mestre em Ciências da Comunicação, e professor de jornalismo.

O autor fala no caminho percorrido na área da fotografia - das máquinas fotográficas analógicas até à invenção das máquinas digitais. Segundo ele, foi um longo caminho, pois as primeiras máquinas fotográficas digitais, para além da resistência por parte de quem estava habituado ao analógico e da dificuldade no seu manuseamento, não serviam para o jornalismo, uma vez que a qualidade das imagens, em pixéis, era bastante reduzida para os trabalhos terem qualidade. E “nada acontece hoje, nas comunicações impressas, sem o endosso da fotografia”, afirma, citando Lima (1989).

Mas, “a partir dos anos 2000, veio o golpe de misericórdia no processo analógico, quando a japonesa Canon lançou a EOSD30, com um sensor de 8.2 megapixels” e o fotojornalismo acabou por ganhar “uma camera digna para as grandes reportagens, capaz de exibir toda a sua capacidade de transmitir informações. Essas informações podem ser passadas, com beleza, pelo simples enquadramento que o fotógrafo tem a possibilidade de fazer. E na verdade, diz Oliveira, o que o fotógrafo muitas vezes faz, é transformar uma notícia visualmente agradável ou importante num grande acontecimento”.

Entretanto, “com a consolidação da fotografia digital a partir dos anos 2000, começaram a surgir softwares que facilitaram a utilização de tratamento de imagens, transmissão” e a publicação de fotografias directamente dos smartphones para as redes sociais, refere Erivam de Oliveira. E “toda essa revolução tecnológica passou a ser absorvida num tempo muito curto por todos que necessitam trabalhar com o fotojornalismo”, pelo que “o profissional necessita de conhecimentos tecnológicos, e não só jornalísticos, já que essa habilidade deve fazer parte do mercado” dos media, considera.

No entanto, na opinião do professor, “a convergência não ocorre” através de aparelhos, “por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros dos consumidores individuais e nas suas interacções sociais com os outros”. Oliveira, considera que “a cada dia que passa, essa tendência ocupa as redacções e o mercado da comunicação, desde a produção de uma fotografia, até ao vídeo jornalístico ou institucional.”

“Portanto, fazer uso das tecnologias possibilita-nos a produção de produtos interactivos e transmediáticos, que são essenciais nos programas multidisciplinares dos cursos de jornalismo e nos cursos de comunicação, já que os estudantes são consumidores ávidos dessas ferramentas, que agilizam a produção de conteúdo para os meios de comunicação”, afirma o professor.

Erivam Morais de Oliveira afirma que “cada dia que se passa, o jornalismo tende a ser mais colaborativo e participativo”, e que, portanto, “aceitar as suas transformações como processo de aprendizagem e as suas práticas sociais, os seus efeitos políticos, culturais e tecnológicos, são factores importantes que merecem ser analisados e partilhados”, e “com toda a sua essência, cabendo ao profissional do jornalismo, o zelo, a organização e o respeito aos preceitos éticos da informação”, acrescenta.

No entanto, “assim como no passado, vivemos a grande transformação de valores” sobre a imagem e, também, comunicacionais, “principalmente no campo do jornalismo, onde procuramos formas e meios para sobreviver à avalanche tecnológica dos nossos tempos”, articula Erivam de Oliveira.

O professor considera que “o fotojornalismo moderno necessita de profissionais que entendam os «conflitos entre as formas emancipadas que surgiram na sociedade e puderam proliferar nas redes digitais, numa economia crescentemente baseada em bens imateriais e intangíveis»”, citando, desta vez, Pretto e Silveira em “Além das redes de colaboração: internet, diversidade cultural e tecnologias do poder”, 2008, acrescentando que é necessário que esses profissionais “participem de forma empreendedora e criativa para o bem comum da fotografia e do fotojornalismo.”

“O mundo mudou e o fotojornalismo, como ferramenta de consumo e de informação, está sempre na vanguarda da comunicação, pronto para acompanhar todos os seguimentos da sociedade, capturando, denunciando e se reinventando, diz Oliveira, considerando que esse é, também, “o caminho da fotografia digital.”

E, chegados aqui, diz o professor que “a fotografia e, principalmente, o fotojornalismo, mais uma vez, enfrentam novos desafios, entre os quais não podemos deixar passar a preocupação com as fotografias gerada por inteligência artificial (IA).”

Erivam, fala do caso recente, já em 2023, em que uma foto, criada por Inteligência Artificial (IA), foi vencedora de um concurso fotográfico (da empresa DigiDirect), o que “representou um marco significativo no avanço da tecnologia de IA”, afirma. “A capacidade da IA de criar imagens realistas e artisticamente agradáveis pode ter um impacto profundo na indústria da fotografia, especialmente em áreas como publicidade e marketing”, acrescenta.

Os defensores da criação de arte por IA argumentam que a tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para a expressão artística e que os algoritmos de IA podem ser treinados para incorporar os valores humanos e culturais, aqueles que os seus antagonistas reclamam estar em falta nesta tecnologia, esclarece Oliveira.

Mas, apesar da criação de arte por IA ser, ainda, um tópico controverso, o professor diz que “é inegável que a tecnologia está a evoluir rapidamente e pode continuar a desempenhar um papel cada vez mais importante na indústria da fotografia e na arte em geral.”

E sobre o tema, Erivam de Oliveira, afirma que talvez estejamos a enfrentar algo novo, “que vai além do real fotográfico”, perante a “contestação incontestável da subjectividade, que somado ao conjunto é a realidade em si mesma”, refere.

Erivam Morais de Oliveira, finaliza, por isso, a sua reflexão, dizendo que,  “questionar a neutralidade e a objectividade do fotojornalismo, para justificar e amarrar um pensamento, sem conhecermos detalhes das coberturas, ou mesmo, em qual contexto”, é algo, “no mínimo, inconsistente e erróneo, podendo criar-se falsas análises do pensamento original”.