Jornalista mexicana vence Prémio de Herói da Liberdade de Imprensa
A jornalista de investigação mexicana, Carmen Aristegui, foi a vencedora do prémio World Press Freedom Hero 2023.
Aristegui liderou várias investigações acerca do funcionamento de sucessivos governos mexicanos ao longo de décadas, revelando camadas de corrupção. A distinção destaca a sua resiliência e compromisso com o trabalho, apesar dos esforços intentados para a silenciar.
O prémio, concedido pelo International Press Institute (IPI) e pelo International Media Support (IMS), homenageia jornalistas que contribuíram significativamente para a promoção da liberdade de imprensa, especialmente aqueles que, para isso, enfrentam um grande risco a nível pessoal.
Entre os abusos aos quais Aristegui e a sua família foram submetidos, estão campanhas públicas de difamação e demissões por motivos políticos, o que foi constatado e reconhecido pelas duas organizações, num comunicado à imprensa.
O comunicado observa como, em 2015, Aristegui foi demitida da emissora de rádio MVS, logo após a divulgação, por parte da jornalista e da sua equipa, de um negócio imobiliário duvidoso da esposa do então presidente, Enrique Peña Nieto, e depois de ter ajudado a lançar o MexicoLeaks, uma plataforma Wikileaks projectada para expôr a corrupção.
Aristegui e os membros da sua família, também foram alvo do spyware Pegasus, o que entra num dos primeiros casos de uso conhecidos pelo poderoso sistema de espionagem contra jornalistas.
O Pegasus é um spyware desenvolvido pela empresa de armas cibernéticas israelense NSO Group, que pode ser instalado, secretamente, em telemóveis e outros dispositivos com os sistemas Android e iOs, com o objectivo de recolher todos os dados existentes nestes dispositivos.
Esta vigilância também visava o seu filho de 16 anos, Emilio, e dois colegas. Acredita-se que a sua irmã, uma produtora, bem como uma ex-assistente da equipa, também tenham sido alvos desta espionagem.
A coragem de Aristegui também inspirou, no México, uma geração de mulheres jornalistas na indústria dos media, que até aí eram predominantemente dominados por homens.
“Num país onde o discurso político polarizado e a desinformação estão em ascensão, e onde um jornalista ou meio de comunicação é atacado a cada 13 horas, o jornalismo independente, como o que Aristegui pratica e representa, não é apenas necessário, mas também um elemento-chave da democracia”, observam o IPI e o IMS.
A jornalista continua a trabalhar na “CNN en Español” e no Aristegui Noticias, um site que ela própria fundou e onde continua a produzir investigações contundentes sobre a elite governativa do México.
A premiada foi seleccionada por um júri composto, não só pelo IPI, ou pelo IMS, mas também pelo editor fundador do The Wire, Siddharth Varadarajan, por Iryna Vidanava, co-fundadora e CEO da CityDog.io, um media independente online, líder na Bielo-Rússia, e por José Zamora, director de comunicação do Exile Content, e filho do jornalista José Rubén Zamora, preso pelas autoridades da Guatemala, em 2022.