É aflitivo o número de políticos, no activo ou na reserva, que se “travestiram” de “comentadores” nas televisões, desde as temáticas às generalistas.

O “padrinho” de todos foi, indubitavelmente, o actual Presidente da República, que dedicou largos anos ao comentário político, desde a Imprensa, à Rádio e à Televisão, onde granjeou uma inquestionável
popularidade, que conserva até hoje, não resistindo, como se sabe, ao avistamento de um microfone ou câmara.

Depois dele, não faltaram nem os “herdeiros” nem os “aprendizes”, explorando o espaço mediático, em nome de convicções, ou, simplesmente, como mensageiros dos respectivos partidos.

O certo é que as televisões passaram a disputar os políticos como os ex-futebolistas, aprofundando uma originalidade sem paralelo, tanto na Europa, como nos Estados Unidos.

Uma coisa é convidar especialistas em determinadas áreas para comentar algum acontecimento importante, outra bem diferente é contratar políticos “fardados” de comentadores, promovidos em
antena como se fossem “pop stars”, e com recurso aos mais variados formatos, pagos regiamente, embora seja raro apresentarem-se em estúdio com espírito independente.

Adicionalmente, chega a ser deprimente observar o papel atribuído pelas televisões aos seus jornalistas, designadamente, aos pivôs dos telejornais, sujeitos a assumirem um papel de “muletas”, seguindo à risca o guião combinado com os “comentadores” de serviço.

Ocorre perguntar se este fascínio das televisões (e das rádios, embora mais moderadamente) - pelos políticos-comentadores, oriundos da extrema esquerda à direita, constitui uma boa alavancagem para as suas audiências.

É de duvidar, embora o elenco de políticos-comentadores não pare de engrossar.

Para os políticos, é um “suplemento de alma” de que precisam para arrecadar mais uns “cobres” e para manterem e ampliarem a sua visibilidade pública, vital para as suas ambições.

Para os media que os contratam, não obstante serem, em muitos casos, um simulacro de pluralismo, são tidos como expressão da sua influência e como “capas protectoras”.

Por muito fracas que sejam as audiências alcançadas, o que conta é o efeito de megafone, com ecos na Imprensa e na Rádio, ou nas versões digitais nos vários websites.

Com isto reforçaram-se cumplicidades. Mas perdeu-se o rigor, a imparcialidade, se não mesmo, a credibilidade.

E criou-se um círculo vicioso do qual é difícil sair. E é onde estamos…