Essa revista chamava-se ALMANAQUE e era diferente de tudo o que se publicara até então. A começar pela forma, pelo aspecto, pelo seu grafismo completamente inovador, da responsabilidade de um Artista Gráfico originalíssimo, que faria escola e viria a influenciar gerações de profissionais, alterando hábitos e estilos dos que, até então, se tinham limitado a seguir rotinas já experimentadas vezes sem conta, na apresentação dos jornais e revistas que então se publicavam.

Esse Artista era Sebastião Rodrigues, um verdadeiro Mestre, inovador, original, com conceitos inesperados, duma beleza gráfica como até então ainda nunca fora experimentada.

 
O ALMANAQUE começava, assim, por atrair pelas suas capas, muito arrojadas e muito ousadas. Mas, depois, vinha o interior de cada revista – e aí, era o conteúdo que prendia o leitor, pela diversidade, pela originalidade, pela variedade, pelo humor, pela aparente ligeireza dos temas, à primeira vista dentro dos parâmetros habituais dos antigos almanaque de antanho – mas depressa revelando outra profundidade e outro interesse, muito para além dos habituais em publicações com o mesmo título, mas não com o mesmo charme. 

 

É que a orientação literária e a direcção tinham sido entregues a José Cardoso Pires, secundado por uma equipa de luxo… Só que, curiosamente, os textos, de um modo geral, não apareciam assinados, salvo alguns casos especiais, como nas transcrições de originais de Aquilino Ribeiro, Manuel Mendes e outros autores nacionais mais consagrados. Os textos traduzidos, de autores estrangeiros, esses sim, apareciam sempre identificados com os nomes dos autores.

Foram publicadas 18 números do ALMANAQUE, mais ou menos mensalmente, de Outubro de 1959 a Maio de 1961 (a publicação não era muito regular e, a partir de certa altura, alguns números abrangiam 2 meses).

A orientação gráfica foi sempre de Sebastião Rodrigues, e marcou uma época e um estilo, porque era, na verdade, de altíssima qualidade.

Entre os colaboradores nacionais (os tais que nunca assinavam) estavam, entre outros, Alexandre O'Neill. Augusto Abelaira, José Cutileiro, Abel Manta (este com muitas ilustrações excelentes, mais assiduamente nos últimos números da publicação), Baptista Bastos, Vasco Pulido Valente, etc.. Ora, se os desenhos são fáceis de identificar, pelo estilo de cada um dos seus autores, já nos textos essa identificação por autores é mais difícil.

Actualmente, é difícil encontrar exemplares deste ALMANAQUE, a não ser num ou noutro alfarrabista. Porém, quem tenha a sorte de poder folhear os 18 números publicados, encontra uma revista de qualidade muito acima de tudo o que se publicava então, deparando-se com informações, passatempos, curiosidades, conselhos, biografias, utilidades várias, textos e ilustrações de qualidade acima de média.

 

  

Nas 5 imagens que acompanham este texto, podem apreciar-se as capas dos dois primeiros números, além de duas páginas interiores escolhidas ao acaso, e uma página com ilustrações de Abel Manta.