Em democracias maduras, os media, designadamente, as televisões, podem convidar especialistas, entre os quais políticos, para se pronunciarem sobre acontecimentos que careçam de enquadramento e de uma melhor contextualização. 

Mas não são residentes nem pagos por isso, ao contrário do  que acontece na maior parte dos  casos portugueses, cujos “cachets” são, contudo, sonegados ao conhecimento público.

Enquanto estas dezenas de comentadores, fieis às suas capelas, debitam os recados   que lhes convém,  para influenciar a agenda mediática e o eleitorado, assiste-se ultimamente a uma espécie de “baile mandado”  em programas de entretenimento em televisão, com a participação de dirigentes partidários e, até,  do primeiro ministro em exercício.

O objectivo ( não confessado…) dos  políticos  é, obviamente aproveitar a popularidade alcançada por alguns desses programas para se mostrarem à vontade, de avental na cozinha, ou a recontar histórias de vida, num jeito informal e a piscar o  olho ao eleitorado mais  sensível a estas rábulas estudadas.

Entre a doutrinação ideológica , servida  em doses maciças por evangelistas encartados,  e os petiscos cozinhados à vista ,  da direita  à esquerda, temos um novo formato de “reality show”, que procura explorar a adesão fácil do espectador,  entretido e grato pelo divertimento que lhe oferecem.

Pior: há políticos no activo, que se exercitam no comentário  com manifesto apetite, talvez por terem interiorizado a ideia de que os media e,  em particular a televisão, podem “vender”  melhor as suas ideias e alavancá- los para outros voos. Uma perversão do nosso sistema.

O que prova, ainda, o trabalho do Expresso é que os jornalistas, salvo raras excepções, foram completamente ultrapassados pelos políticos no ofício de comentadores, e a maioria dos que sobraram  activos, em particular, nos audiovisuais, “politizaram-se” também e circulam, entre estúdios e redacções, a repetirem o que está na “onda” do momento. 

Num altura em que tanto se fala de “fake news” - matéria que motivou inclusive um debate parlamentar - ,  é pena que se desperdice a oportunidade de discutir, seriamente, esta originalidade portuguesa, quando os media se curvam à “informação espectáculo”  e se prestam  a  vender “gato por lebre”…